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O título de “Rabbit hole” no Brasil é errado não simplesmente porque é barango e nada criativo. Mas porque ninguém reencontra nenhuma felicidade ao final do filme, especialmente os dois protagonistas. Após sofrerem a morte do filho de quatro anos por 1h30, Becca (Kidman) e Howie (Eckhart), no máximo, reaprendem a viver – e esse seria um título tão barango quanto, mas menos ignóbil. E sim: é um filme triste, sobre pessoas tristes em várias cenas (muito) tristes – e cabe a você decidir se quer ou não encarar o rojão.
É fácil entender porque Nicole Kidman brigou tanto para produzir o longa: a protagonista cai como uma luva para a australiana. E a qualidade da atuação dela não se mede pela capacidade de mover a testa, mas pela naturalidade com que abraça os piores defeitos da personagem. O filme segue Becca e o marido enquanto eles tentam achar formas de lidar com o luto. Os dois passam a maior parte das cenas separados porque juntos são obrigados a constituir uma família que não querem mais ser sem o filho. Olhar para o outro é lembrar que a criança não existe mais – e a casa, portanto, passa a ser como um cemitério em que estão presos.
O maior mérito do roteiro, adaptado por David Lindsay-Abaire a partir de sua própria peça, é mostrar que não existe auto-ajuda nem fórmulas: conviver com o sofrimento é um processo individual e diferente para cada um. Howie busca apoio naqueles grupos de ajuda retratados em “Clube da luta”, mas chora escondido todas as noites vendo vídeos do filho. Já Becca não suporta a condescendência espiritual do grupo nem a afeição incondicional de sua limitada mãe (Wiest). E numa abolição quase total do super-ego, deixa bem claro para o mundo, em palavras nada graciosas, que não, eles não sabem o que ela está passando.
Seu único refúgio passa a ser os encontros com Jason (Teller), um adolescente que vai ajudá-la a perdoar algo em que sua mente racional não acredita: “cachorro persegue esquilo, criança persegue cachorro. Não há culpa”. É a frase de Howie que sintetiza bem “Reencontrando a felicidade”. O retrato de uma classe média alta incapaz de lidar com o fato de que, não importa quão ricos eles sejam, merda acontece.
O mais impressionante é que isso é dirigido por John Cameron Mitchell que, ao invés dos fogos de artifício de “Shortbus”, limita-se aqui a respeitar seu roteiro e seus atores. Ele usa, no máximo, uma trilha melancólica quase onipresente, representando a dor dos personagens que nunca vai embora. E escorrega com um flashback desnecessário em uma cena crucial.
Nada que comprometa. Se você decidir seguir pelo “Rabbit hole”, não há um pote de ouro, nem felicidade, no final – mas não quer dizer que a jornada não valha a pena.