De western para “Star Wars”. De Jeff para Troy. De vilão para herói. O episódio final da segunda temporada de “Community” inverteu gêneros, papéis e expectativas, algo que a série consegue fazer muito bem em seus melhores momentos. O clima Sergio Leone foi drasticamente transformado em algo muito mais para George Lucas e Steven Spielberg. Uma ação épica com dois grupos de personagens distintos se dividindo para vencer o malfadado jogo de paintball que teve início no episódio anterior.
Descobrimos que quem está por trás de tudo é o reitor do City College, que armou a disputa com um prêmio de 100 mil dólares para que os próprios alunos destruíssem Greendale. Mas ao descobrirem o plano, Troy e Abed formam uma “aliança rebelde” para lutar contra o exército de City College e usar o prêmio para a reconstrução de sua universidade. Troy assume um importante papel de líder, disputando com Jeff por apresentar o melhor plano de ataque. Já Abed assume o papel de Han Solo, engatando um surpreendente – e curto – romance com Annie. Britta e Shirley ganham destaque na parte final quase salvando o dia. Quase, porque o herói acabou sendo Pierce. Sua tão aguardada redenção aconteceu de forma encaixada na história, sem forçar a barra e sem apelar para o sentimentalismo.
Com momentos verdadeiramente emocionantes, usando à disposição todos os clichês de aventuras épicas, o episódio conseguiu prender a atenção do início ao fim. Uma pena que não houve tempo para Chang ganhar algum destaque, mas tudo funcionou de forma muito bem estruturada, com um rodízio de importância dos personagens principais dentro da história.
“For a Few Paintballs More” apenas perdeu por ser a continuação de uma história que começou a ser contada na semana anterior. Sem início e com um final aberto, este excelente episódio ficou aquém de sua primeira parte, exatamente pela sensação de incompletude. Por outro lado, esta sensação funciona que é uma beleza na paródia de uma saga como “Guerra nas Estrelas”, dividida em vários episódios sem início e nem fim. O final em aberto deixa uma dúvida real: após sua redenção, Pierce continuará com o grupo? Chevy Chase volta para mais uma temporada?
De qualquer forma, o episódio fechou satisfatoriamente uma temporada cheia de altos e baixos, com episódios que certamente comprovaram a genialidade desta série que ainda precisa conquistar um público maior para se manter viva. Seu maior trunfo é não fazer concessões e não ter medo de errar, evitando apelar para soluções fáceis. Resta esperar que a próxima temporada continue assim, sem medo dos baixos índices de audiência.
Este segundo ano pode ser dividido em dois tipos básicos de episódios. Os mais numerosos foram aqueles construídos a partir da paródia de gêneros. Destes destacam-se “Basic Rocket Science” (com o ônibus espacial), “Epidemiology” (do Halloween), “Conspiracy Theories and Soft Defenses” (conspirações e guerra), “Abed’s Uncontrollable Christmas” (em stop-motion) e “Advanced Dungeons & Dragons” (do RPG).
Os outros episódios, infelizmente em menor número, foram aqueles focados nas relações entre os personagens. “Early 21st Century Romanticism” (do Dia dos Namorados), “Mixology Certification” (aniversário de Troy) e “Critical Film Studies” (o aniversário de Abed) foram bons destaques deste tipo. Já “Paradigms of Human Memory” (aquele com os flashbacks) e “A Fist Full of Paintballs” (western) foram brilhantes por conseguirem misturar as duas coisas: a paródia de gênero com o desenvolvimento elaborado dos personagens.
São episódios que mostram o diferencial desta série para todas as outras comédias atualmente na televisão. “Community” se despede de seu segundo ano com um gostinho de quero mais e muita curiosidade para a terceira temporada. Vai ser uma espera demorada…