Um diretor normal no divã
por Daniel Oliveira
receite essa matéria para um amigo
Nomeie um cineasta brasileiro que tenha conseguido lançar dois filmes no mesmo ano. Com exceção de Daniel Filho e Moacyr Góes, por favor, que estamos buscando alguma qualidade além da quantidade. Lembrou? Ahn? DifÃcil, né?
José Alvarenga Jr., 48 anos, mais de 20 de carreira, realizou o feito em 2009. E, apesar de nenhum dos dois longas ser uma obra-prima, eles mantêm uma qualidade acima da média em um ano excepcionalmente fraco para o cinema nacional. Depois do sucesso inesperado de “Divãâ€, Alvarenga lança agora “Os normais 2 – A noite mais maluca de todasâ€, repetindo a parceria com Fernanda Young, Alexandre Machado, Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, que se tornou sinônimo de sucesso desde 2001, quando a série foi ao ar com seu nome na direção-geral.
Com larga experiência na TV, o diretor foi responsável por seriados globais recentes (Aspones, Minha nada mole vida, A Diarista) e esteve envolvido em vários outros (Mulher, A justiceira, Sai de baixo). Se isso tudo não é credencial o bastante, ele ainda dirigiu vários crássicos dos Trapalhões no final dos anos 80 e inÃcio dos 90 - entre eles, “O mistério de Robin Hoodâ€, “A princesa Xuxa e os Trapalhões†e “Os Trapalhões e a árvore da juventudeâ€.
Além de “Divã†e “Os normais 2â€, Alvarenga ainda comandou a primeira temporada do seriado “Força-Tarefa†no inÃcio do ano e já está preparando a segunda, além de outros três longas. No meio disso tudo, o homem-trabalho ainda tirou um tempinho para responder algumas perguntas do PÃlula Pop via email. Nas respostas, revelações bacanas como os planos para a volta d’Os normais†à TV em 2010 e um musical com canções do Frejat e letras do Leoni (?!). Além das séries que ele (incrivelmente) tem tempo de ver na televisão – e da insinuação de que seu pau ficaria ridiculamente pequeno perto da câmera fodástica com que ele filmou “A noite mais maluca de todasâ€.
Barbudim.
Pílula Pop: “Os normais 2†vem seis anos depois do filme anterior – tempo ainda maior com relação à última temporada da série. A equipe – você e o elenco, principalmente – demoraram para reencontrar o “ritmo†daquele universo e “ressuscitar†o Rui e a Vani?
José Alvarenga Jr.: Foi tudo muito rápido. Fizemos apenas uma leitura e fomos pro set. Com 15 minutos de ensaio, já estávamos diante de Rui e Vani novamente. O conceito do filme foi elaborado com muito cuidado e levou oito meses de estudos, mas as gravações levaram quatro semanas e meia.
Pílula Pop: O longa foi realizado em digital, assim como o anterior, mas de lá para cá a tecnologia avançou bastante. Quais foram as principais novidades, em termos de recursos visuais, desse filme?
José Alvarenga Jr.: O filme foi realizado com a F 35 da Sony, que é hoje a câmera mais moderna do mundo em termos de cinema digital. Ela tem tanta definição que possibilitou desenvolver quase todas as locações externas em 3D. A Copacabana que aparece no filme foi toda criada em computação gráfica.
Pílula Pop: E qual foi a cena mais difÃcil de ser realizada?
José Alvarenga Jr.: Aquelas em que Rui e Vani estão no carro, pois ele foi todo construÃdo em CGI (interior e exterior) e a câmera se deslocava bastante dentro desse espaço. Os atores tinham que ser naturais, como se estivessem dentro de um veÃculo de verdade, mesmo correndo o risco de levar uma cacetada da câmera na cabeça.
Pílula Pop: Com relação à criação da história, como é a sua relação, da Fernanda Torres e do Luiz Fernando com a Fernanda Young e o Alexandre Machado? Sugerem muito durante a elaboração do roteiro? E quanto à improvisação - no set, vocês fogem muito do que está no script?
José Alvarenga Jr.: Todos ouvimos bastante o outro. Nossa força criativa vem daÃ. Sugerimos novas idéias o tempo todo: eu no texto deles e eles na minha montagem, sem vaidades tolas. Todos ganham e o resultado tem sido o sucesso de nossos programas ao longo de 10 anos. Já a improvisação é necessária na comedia. É o sopro divino atuando na arte. Mas somente com um texto firme e de qualidade é que improvisações podem ocorrer. Quando o roteiro é bom, ele serve de rede de proteção e, ao mesmo tempo, de trampolim para a inspiração. Mas 90 % do filme segue o texto dos autores.
Pílula Pop: Houve alguma piada/gag/situação “normal†que vocês pensaram, mas a Fernanda e o Luiz não tiveram coragem de fazer?
José Alvarenga Jr.: Não. Eles sempre foram com tudo nas cenas. Muitas vezes, arriscando mais do que era pedido.
Pílula Pop: “Os normais 2†é uma prova de que Rui e Vani ainda têm muitas situações “normais†para explorar. Existe alguma possibilidade de ser produzida uma nova temporada do seriado? E se o público do filme for bom, já há planos para um terceiro?
José Alvarenga Jr.: Em breve iniciaremos conversas para a possÃvel volta do seriado à TV no segundo semestre do ano que vem. Quanto a “Os Normais 3â€, vamos esperar as bilheterias...
De cara limpa.
Pílula Pop: Você acumula uma experiência considerável com sitcom/seriados para TV e filmes. Qual dos dois você prefere? É possÃvel se sustentar no Brasil fazendo só cinema?
José Alvarenga Jr.: Sou fã dos dois meios .Cada qual tem seus desafios. Eu sou a prova viva de que dá pra viver de cinema no Brasil. Lembro que faço televisão há apenas 10 anos e, durante todos os outros, vivi de cinema e publicidade. E nunca atrasei a mensalidade das escolas dos meus filhos.
Pílula Pop: Esse é o seu segundo longa neste ano, depois do sucesso de “Divãâ€. Como diretor, quais são as principais diferenças entre abordar um universo que você já conhece bem (como Os normais) e explorar um material que já existia, mas não era “seuâ€, como no filme com LÃlia Cabral?
José Alvarenga Jr.: Foi um desafio interessante. Ontem encontrei o Hector Babenco e ele me disse que, ao ver os dois trabalhos, teve a clara sensação de que eram diretores distintos. Isso me deixa feliz porque indica que cada projeto tem exigido de mim novas buscas estéticas e de conteúdo - e que tenho dado conta. Continuo a me empenhar para que eu não ceda ao conforto da acomodação.
Pílula Pop: E você assiste muita TV? Tem tempo? Há algo especial que você acompanhe/goste?
José Alvarenga Jr.: Vejo bastante coisa. O que eu mais gosto no momento é “Californicationâ€. Gosto também de CSI. Simpatizo com o “The Office†americano, mas ele perde de mil do original inglês.
Pílula Pop: Alguma coisa que você viu no cinema (nacional ou não) que recomende?
José Alvarenga Jr.: Gosto do “À deriva†e de um filme japonês chamado “A partidaâ€.
Pílula Pop: E projetos futuros – para cinema e TV?
José Alvarenga Jr.: De imediato na TV, a volta do “Força-Tarefa†para abrir a grade de 2010. No cinema, a realização do filme “Cilada.com†com o Bruno Mazzeo e do musical pop “Intimidade entre estranhos†com musicas do Frejat e letras do Leoni. E o projeto “Elisa†com a LÃlia Cabral.
» leia/escreva comentários (5)
|