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Graveola e o Lixo Polifônico

por Augusto Veloso

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Augusto - "E então, me contem como a banda se formou."

Luiz - "Ah, véi! Foi mais ou menos aquilo que você lembra mesmo..."

Algumas entrevistas eu nunca gostaria de fazer. É o caso de Graveola e o Lixo Polifônico, sexteto belorizontino que acabou de lançar seu disco de estreia. Conhecendo boa parte dos músicos há muito tempo e uma boa parte da trajetória da banda, qualquer conversa que tivesse um rumo de uma entrevista formal poderia ficar despropositada como o diálogo acima. Só depois de uma noite e um dia "de delícias e loucuras" com as músicas deles é que me atrevo a escrever sobre o novo CD.

Acontece que meu dedo coça muito para escrever o pouco que sei sobre eles e tenho um pouco de vontade de gritar que eles são muito bons, mesmo fazendo uma mpb moderna, com algumas invenções meio malucas e o liquidificador como totem, para misturar todas as batidas.


Os graveolas (foto: Luisa Rabello)

Augusto - "A música que vocês fazem é bem diferente. Como vocês definem esse ritmo que tem samba, tem tango, tem mangue bit e tem sininho de vaca?"

Marcelo - "Viva o lixo polifônico!"

Yuri - "Ah, nem! Já chegou nessa parte?"

João Paulo - "Paraí, galera! (...) Barroco-beat é um dos nomes que a gente tem usado"

Augusto - "É com hífen isso?"

Barroco-beat? A faixa "Samba de outro lugar" começa com uma ciranda e passa para um tango moderno para falar desse samba estrangeiro. O beat mesmo só começa na terceira estrofe, mas rapidamente dá lugar a uma mistureba roqueira no último refrão. É folclore popular, é novos baianos e é mutantes; é graveola. Já "Insensatez: a mulher que fez" é um sambinha melhor assumido. Nessa faixa, a letra é que é faz as vezes de impressão digital da banda: "resolvi virar um guein guein guein (...)/então eu disse/ para, continua, continua, para, para, para, para, continua, continua, para"

Graveola tem uma necessidade impressionante de embaralhar as coisas. É por isso que algumas músicas têm esse gosto de reciclado, de um certo déjà vu que te faz perguntar onde escutou aquilo antes. "Do alto" pode ser frustrante para um fã radical de Tom Jobim, mas é capaz de agradar aos amantes menos exigentes. E vários outros nomes surgem entre as faixas do álbum.

Augusto - "Então, Zé do Poço é referência também?"

Luiz - "Véi, cê não tá entendendo. Zé do Poço é a referência!"

Homenagem a Zé do Poço é a faixa "O Quarto 417 (As aventuras de Dioni Lixus)", contando muito mais em prosa do que em verso a história do "licor libidinal" de uma mulher de laranja. Falada é também "Chico Buarque de Hollanda vai à copa de 2006", e guarda ainda mais uma similaridade com a faixa anterior: são músicas visuais. E eu não estou falando só das belas projeções construídas ao vivo por videomakers estreantes nos shows de Graveola. A banda interpreta essas duas músicas se vestindo, se movimentando e teatralizando um gingado que o CD não é capaz de transmitir.

O álbum deixa de fora coisas que somente o show e, em alguns casos, um DVD ao vivo poderia trazer. Tentar imprimir a energia que a banda tem e a atmosfera que eles criam em um álbum pode cair no erro de engessar todo o trabalho e deixá-lo sem graça, mas vale a tentativa. Graveola é melhor ao vivo, mas ainda é muito boa em CD.

"Samba de Outro Lugar" no show de lançamento do CD

Mas nem tudo se perde na transposição da música ao vivo para o CD. Existem faixas que mantém toda a mágica que Graveola consegue criar em seus shows. São exatamente aquelas em que a experimentação do grupo é mais presente. É difícil não se deixar levar nessas inovações que a banda propõe:

Augusto - "Peraí, isso aí não é de comer?"

Marcelo - "Mas olha o som que faz!"

E já que é para experimentar, porque não experimentar com o brega ou mesmo fazer baladas pegajosas? A divertidíssima "Benzinho" é a música para recomeçar a vida pós-término traumático de relacionamento. Vira hit instantaneamente. O mesmo acontece com a baladinha "Antes do Azul (papará)" onde a música vai crescendo e você vai se deixando levar no dueto de José Luis e Luiz Gabriel até que o fim do refrão traga as surpresas que a voz de "Zélu" se encarrega de entregar.

O terceiro hit do álbum também é culpa da sua voz grave. "Outro Modo" é uma composição que põe toda a trupe para trabalhar em diversas sonoridades muito bem costuradas. A outra vantagem dessa faixa é a ausência da escaleta que, por favor, não deve ser usada em doses cavalares como nesse primeiro álbum nos próximos que hão de vir. E hão de vir próximos!

Ah, dá pra baixar o disco inteiro aqui

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