Busca

»»

Cadastro



»» enviar

A pergunta que não quer calar

19.05.09

por Renné França

W.

(EUA/Hong Kong/Austrália/Alemanha/UK, 2008)

Dir.: Oliver Stone
Elenco: Josh Brolin, Elizabeth Banks, James Cromwell, Richard Dreyfuss, Ellen Burstyn

Princípio Ativo:
a piada real

receite essa matéria para um amigo

Ele só queria ter um time de beisebol. Mas acabou como presidente dos Estados Unidos da América. Como George W. Bush conseguiu tal feito? É o que o diretor Oliver Stone tenta responder com “W.â€, biografia de um dos governantes mais ridicularizados da história política recente.

Pela exploração de momentos de vergonha alheia, Stone constrói o mais próximo que ele já chegou de uma comédia, em uma abordagem ao mesmo tempo compassiva e satírica. Apesar de mais contido, continua se valendo da edição fragmentada, de alucinações de personagens e seu complexo edipiano. Se em “Platoonâ€, Chris tinha a alma dividida entre dois “paisâ€, e em “Alexandre†o personagem título usava suas intermináveis conquistas para ficar longe da mãe e fugir da pressão de atender às expectativas dela, aqui Bush Jr. aparece como alguém preterido pelo pai em favor do irmão.

Ao justificar a ascensão meteórica de um administrador incompetente e alcoólatra ao cargo político mais alto de seu país como resultado de uma tentativa de chamar a atenção do pai, Stone esvazia dramaticamente sua obra, focando em momentos dispensáveis (como o “sonho†em que George filho recebe palmadas de George pai). Por outro lado, apresenta um interessante panorama dos bastidores do poder na América.

O fato de estarmos presenciando a ficcionalização de personagens que ainda estão bastante claros em nossa memória recente causa um certo estranhamento. Apesar das boas interpretações (com exceção de Thandie Newton como Condoleezza Rice), Bush e cia. surgem como caricaturas de algum programa humorístico, já que em nenhum momento conseguimos o distanciamento necessário para “esquecer†os atores e ver apenas suas representações: Josh Brolin, por sinal, faz um trabalho fascinante, imitando os trejeitos, o tom de voz e o olhar de W., porém a comparação com o verdadeiro Bush Jr. diminui seu belo trabalho.

Após os conspiratórios “JFK†e “Nixonâ€, Stone tem o mérito de contar sua história sem escolher lados, como um pesquisador curioso que busca compreender como aquele homem se transformou em alguém tão poderoso - e as cenas metafóricas utilizando o beisebol funcionam muito bem para isso (especialmente a última). Ao final, o diretor finalmente dá seu recado, preenchendo a tela com imagens reais da Guerra do Iraque, e o tom leve dá lugar à força da violência, provocando um incrível incomodo. É como se o diretor dissesse: “Estão se divertindo? Riram bastante com as desventuras desse homem? Pois é, isso tudo resultou nisso aquiâ€. O recado é claro. Com certas coisas não se brinca.

Mais pílulas:
- Frost/Nixon
- Entreatos
- Fahrenheit 11 de setembro
- ou Navegue por todas as críticas do Pílula

Imagens de uma piada recente.

» leia/escreva comentários (3)