Cinema de ator
10.02.09
por Isabella Goulart
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Dúvida
(Doubt, EUA, 2008)
Dir.: John Patrick Shanley
Elenco: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Joseph Foster
Princípio Ativo: so many doubts...
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Billy Wilder, que antes de dirigir suas próprias histórias escreveu para Lubitsch, Hawks e Leisen, dizia que “escrever um roteiro é como fazer a cama para alguém, depois o outro chega, pula em cima e só resta voltar para casaâ€. Assim, “todo verdadeiro criador em cinema deve ter como finalidade última a direçãoâ€.
Roteirista de uma dúzia de filmes (e oscarizado por “Feitiço da Luaâ€), John Patrick Shanley é um diretor inexperiente: antes de “Dúvidaâ€, só havia dirigido “Joe Contra o Vulcãoâ€. Mas os anos em Hollywood provavelmente lhe ensinaram que, quando falta a experiência, é possÃvel se cercar de garantias.
Dezoito anos após a comédia-romântica protagonizada por Tom Hanks e Meg Ryan, ele decidiu tentar a sorte no traiçoeiro terreno do drama moral. E numa época em que nos arrebatamos (pelos menos alguns de nós) por fotografias luxuosas e excessos digitais, “Dúvida†me despertou simpatia por não ter nada demais.
O longa é adaptado da aclamada peça escrita por Shanley. Cinema de autor, ao estilo de Wilder? Longe disso. Muito espertamente, trata-se aqui de um “cinema de atorâ€. Streep é uma freira rÃgida, convencida de que o padre interpretado por Seymour Hoffman manteve relações sexuais com o único aluno negro de uma escola de pré-adolescentes descendentes de italianos. Adams é uma freira inocente (inspirada numa professora do diretor), um terceiro ponto-de-vista conectando-se à dúvida do espectador. Há ainda Davis, a mãe do garoto, que não compartilha a indignação de Streep.
Se essa não é a melhor atuação da dupla Streep & Hoffman, que juntos somam três Oscar, ou o melhor texto que já atuaram, tanto faz. Se eles interpretassem “João e o Pé de Feijãoâ€, valeria a pena. Shanley joga o peso do filme naquilo que tem de mais forte: os dois ou três longos embates verbais protagonizadas pelos dois - e um por Streep e Davis - são suficientes para nos impressionar. A Academia aprovou: os quatro atores foram indicados, ainda que a participação de Davis se limite a duas sequências.
E a razão pela qual, num texto de caracteres reduzidos, não me interessa explorar as cores do cenário ou os posicionamentos e movimentos de câmera – de qualquer forma, teria pouco a dizer sobre eles – é justamente essa. As escolhas narrativas de Shanley não são particularmente interessantes. Sua simbologia da gata e do rato aqui, ou suas nevascas, ventos e chuvas acolá, para fazer do tempo uma metáfora da tensão da trama, acabam como meras saÃdas que não melhoram nem pioram o filme, encaixando-se servilmente nele.
O que importa em “Dúvida†é o elenco, acima da história ou do próprio texto.
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Poderosa: Viola Davis pegou o papel desejado por ninguém menos que Oprah Winfrey.
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