Desconstruindo o albergue
26.01.09
por Daniel Oliveira
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Filmefobia
(Brasil, 2008)
Dir.: Kiko Goifman
Elenco: Jean-Claude Bernardet, Cris Bierrenbach, Hilton Lacerda, LÃvio Tragtenberg, Ravel Cabral
Princípio Ativo: fronteiras difusas
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Tenho vertigem de altura e, alguns anos atrás, saltei do que era, na época, o bungee jumping mais alto do mundo. As pessoas perguntam por que fazemos esse tipo de coisa e a resposta é que ‘queremos provar que somos maior que nossos medos’.
“Filmefobia†busca desconstruir esse argumento racional, ao colocar uma série de fóbicos frente aos seus piores medos potencializados por parafernálias maquiavélicas e ambientação de filme de terror. O objetivo é a ‘imagem real’: a emoção verdadeira, sem controle nem encenação.
O problema é: ao se ligar uma câmera, não passam todos a encenar para ela? Ciente disso, o diretor Kiko Goifman faz de “Filmefobia†um making of ficcional do ‘documentário dentro do filme’. Seu longa registra o trabalho da equipe comandada pelo diretor-vilão Jean-Claude (interpretado pelo crÃtico Jean-Claude Bernardet), enquanto os supostos fóbicos (em alguns casos, atores e, em outros, atores fóbicos) são torturados pelas invenções proto-nazistas da diretora de arte Cris Bierrenbach.
O que se inicia como um estranho filme de terror gore, caminha para um mockumentary e acaba uma comédia metalinguÃstica carregada de sarcasmo. A presença de Jean-Claude, adentrando as ‘sessões’ numa cadeira à la Professor Xavier - uma espécie de Christopher Lee dos filmes da Universal dos anos 50 - ironiza a figura onipotente do diretor, impassÃvel diante da ‘vÃtima’ agonizando os piores momentos de sua vida. Enquanto ela grita por socorro, o sádico operador de som LÃvio Tragtenberg se diverte e o roteirista Hilton Lacerda não para de digitar em seu laptop.
Se o humor surge desses detalhes captados pela câmera-Goifman, as ‘experiências’ se dividem. O fóbico de anão é hilário, os de ratos e cobra são angustiantes, a de celular é exagerada e a de sexo não tem graça nenhuma. O experimento mais interessante acaba sendo o do próprio Goifman, que põe à prova sua fobia (real) de sangue diante de não só um jogo, mas vários. E desmaia.
O cineasta já havia se colocado como objeto de seu trabalho no documentário biográfico “33â€, em que buscava seus pais biológicos e no qual também confundia as fronteiras entre ficção, documentário, comédia, terror, reality show. É essa mesma provocação que torna “Filmefobia†um prato cheio para discussões acadêmicas, fazendo de Goifman o hype do hype no audiovisual brasileiro contemporâneo.
O lance é que o jogo de “Filmefobia†não é só para essa galerinha restrita. Você, o público comum, é parte integrante e fundamental dele e, ao se divertir com Goifman e Bernardet, poderá se sentir tão sádico, perturbado (e talvez tão hype) quanto eles.
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Jean-Claude Bernardet quer te levar para o escurinho e fazer coisas nem um pouco acadêmicas com você.
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