A luta pela esperança
08.01.09
por Daniel Oliveira
|
A troca
(Changeling, EUA, 2008)
Dir.: Clint Eastwood
Elenco: Angelina Jolie, John Malkovich, Michael Kelly, Jeffrey Donovan, Amy Ryan, Jason Butler Harner, Dennis O’Hare, Gattlin Griffith
Princípio Ativo: maternidade
|
|
receite essa matéria para um amigo
Foi o roteirista J. Michael Straczynski que se deparou com a história de Christine Collins em registros prestes a serem incinerados na prefeitura de Los Angeles. Em 1928, a busca pelo filho desaparecido colocou Christine frente a um sistema policial corrupto e injusto, que chegou a entregar outra criança a ela, insistindo que se tratava do garoto.
Obcecado com a história, ele escreveu o primeiro tratamento do roteiro em apenas onze dias. O filme resultante é um excelente melodrama sobre a obstinação de uma mãe na primeira metade para, em seguida, perder-se em um drama de tribunal cheio de cenas desnecessárias, com um terço final contendo os 20 minutos mais inúteis desde o desfecho de “A. I. – Inteligência Artificialâ€.
Ignorando que a elipse é um princÃpio básico do cinema, o diretor Clint Eastwood explicita cada cena e cada diálogo com cada explicação, numa edição que chega à redundância. Até uma batida montagem de manchetes de jornais tornaria os trocentos julgamentos mais dinâmicos.
Que um cineasta iniciante caia nessas armadilhas, principalmente com uma história real que soa quase inverossÃmil, é compreensÃvel. Mas, para um gato escaldado como Eastwood, é imperdoável (com o perdão do trocadilho). Seus méritos se resumem à boa direção de atores (com exceção de um John Malkovich canastrão), remetendo a filmes policiais clássicos, e à sequência de suspense que culmina na saÃda do manicômio.
Já a fotografia em Technicolor de Tom Stern, parceiro usual do diretor, cria uma LA em tons pastéis que lembram “Chinatownâ€. E entrega cenas belÃssimas, como quando Christine pede perdão ao garoto trazido pela polÃcia. Com metade do rosto iluminado e metade no escuro, Stern mostra sutilmente como ela não é uma personagem unidimensional e, por pior que isso soe, não consegue amar uma criança que não é seu filho.
Mas o grande mérito da verossimilhança da Christine pertence a Angelina Jolie, sabendo chorar – afinal, trata-se de uma mãe que perdeu o filho – mas também expressar a dor e resignação de Christine no silêncio. Em determinada cena, um personagem pede que ela assine um documento, atestando que suas acusações contra a polÃcia eram insanas e que as atrocidades cometidas contra ela eram justificáveis. O público sofre porque sabe que aquela é apenas uma mulher, ameaçada de apodrecer entre loucos caso não assine, mas ainda assim acredita que ela não o fará, apoiada na força que demonstrou até ali.
Ter seis filhos e pensar neles em cenas assim pode até ajudar. Mas que Jolie consiga dar essa humanidade à personagem é prova incontestável de seu talento e é, sem dúvida nenhuma, o que há de melhor em “A trocaâ€.
Mais pÃlulas:
- Menina de ouro
- Uma mulher contra Hitler
- As Torres Gêmeas
- Navegue por todas as crÃticas do PÃlula
Até nos anos 20, Angelina Jolie tinha que se esconder dos paparazzi...
» leia/escreva comentários (6)
|