Metáforas sinceras e tristes
20.12.04
por Rodrigo Campanella
|
O Expresso Polar
(The Polar Express - Estados Unidos, 2004)
Direção: Robert Zemeckis
Elenco: Tom Hanks, Leslie Harter Zemeckis, Nona M. Gaye
Princípio Ativo: A plástica (ainda que fria) das imagens
|
|
receite essa matéria para um amigo
Até o momento da estréia, O Expresso Polar ainda era uma das grandes apostas no quesito “inovações no cinema†desse ano. Inovações mais relacionadas à plástica das imagens e seus processos de produção do que com evoluções na “forma-filme†como um todo. Porém, como em “Capitão Sky...â€, o resultado aqui é de uma frieza que remete bem ao tÃtulo da pelÃcula.
Mas estamos falando de um filme de Natal, talvez o único realmente voltado para um público infantil nesse fim de ano. Seria tolice não contar esse fator ao perceber que há várias semanas, com a proximidade do Natal, o filme permanece no top 5 das bilheterias americanas. Mesmo assim, nem de longe é possÃvel aplicar aqui a palavra sucesso. A pelÃcula segue carreira “devagar e sempre†nos cinemas americanos, ao menos até o Natal.
A brincadeira da vez do diretor Zemeckis, antigo apreciador de trucagens visuais (Forrest Gump, Uma Cilada para Roger Rabbitt) é a chamada “captura de performanceâ€. No processo, um ator tem seus movimentos e expressões capturados por computador através de sensores presos no corpo. Depois, a performance é “transportada†para um personagem de animação via computador. Com isso, Tom Hanks, amigo de longa data do diretor, pôde interpretar todos os personagens principais masculinos, do garotinho ao Papai Noel.
O garotinho em questão indica o começo a história. Crescido, ele começa a desconfiar que Papai Noel não existe. É quando aparece na porta de sua casa um trem expresso gigantesco. O condutor diz que veio buscá-lo, o destino é a casa de Noel, no Pólo Norte. O garoto, a princÃpio reticente, resolve embarcar. No mesmo trem, outras tantas crianças também vão ao encontro do bom velhinho.
O filme todo exala falta de emoção. De um lado, a captura de performance traz personagens sem expressão (quilômetros atrás de um Shrek), coisa bastante incômoda em um filme natalino. De outro, o espÃrito de Natal aqui fica reduzido unicamente à importância do presente. O binômio “crença†e “ganho†(material) percorre todo o tecido do filme, e os sentimentos só se concretizam na forma do brinquedo ou da lembrança que os acompanha. Para completar, é preciso suportar o chefe dos duendes de Noel gritando “tempo é dinheiroâ€.
Bom lembrar que falamos aqui de uma dupla de queridinhos da América, defensores de uma vida americana idÃlica, “pura†e vitoriosa (Forrest Gump é o melhor exemplo). Exatamente por isso talvez seja mais difÃcil engolir a forma geral do filme: por saber que as metáforas talvez sejam sinceras.
Das duas, uma: ou o Natal sempre foi (só) isso e ninguém nunca quis ver ou o coração da América já está tão acostumado a se vender que nem percebe mais.
- E aÃ, agora vocês acreditam em Papai Noel? - Só se for naquele ali de plástico...
» leia/escreva comentários (0)
|