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Clichês chicletes pra se ouvir na viuvez

29.09.08

por Pablo Moreno

O Teatro Mágico - 2º Ato

(Independente, 2008)

Top 3: "Cidadão de Papelão", "Amadurecência", "Pena".

Princípio Ativo:
Além do Tilelê

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O Los Hermanos acabou mesmo, mas isso está bem longe de ser o fim do mundo. Se você acha que viuvez de homens barbudos e pouco simpáticos não pega bem, pode ouvir outras coisas boas que há por aí. Uma delas é O Teatro Mágico, trupe paulista da cidade de Osasco, capitaneada pelo compositor Fernando Anitelli, que mistura perfomances teatrais, circenses e música em seu trabalho e move uma legião de fãs tão grande quanto o quarteto carioca.

Em seu segundo álbum, o grupo traz algumas novidades em relação à sonoridade apresentada em Entrada para raros (2005), o primeiro álbum. Enquanto no primeiro a maioria das canções era marcada pelo som calmo de violões de nylon e flautas – o que levou muita gente a rotular a banda como mais um daqueles grupos 'tilelês' low-fi – esse segundo ato traz mais guitarras e sons eletrônicos, como os scratches que fazem a marcação do ritmo de "O mérito e o monstro", a segunda-faixa. Aliás, o disco começa com "Amadurecência", cujo início tem os mesmos versos de "Sintaxe à vontade" de Entrada para raros, mas reforça em um outro verso a tônica de todo o álbum: "A poesia prevalece".

Aproveitando o gancho dos títulos das canções citadas, falemos um pouco sobre os versos de Anitelli. O jovem compositor recorre freqüentemente a chavões, clichês e frases-feitas, descontextualizando-os de seu sentido original e recontextualizando-os, em muitos dos casos, com função meramente poética no ritmo da canção. No 2º ato, essas frases são mais presentes, como em "Cidadão de Papelão", que nos remete aos clowns de Fellini pelo seu ritmo circense. Outro que vem com suas frases feitas (porém bem mais elaboradas) participar do espetáculo do Teatro é Zeca Baleiro, na faixa "Xanéu nº5", um hip hop que critica a programação televisiva brasileira.

E se o Marcelo Camelo achou que o título de Novo Chico Buarque estava garantido, se enganou. Fernando Anitelli mostra que quer o reconhecimento no mesmo patamar do grande compositor carioca em "Eu não sou Chico, mas quero tentar". A canção homenageia o estilo dos sambinhas 'Buarquianos' e faz referência à obra e até mesmo ao sotaque carioca do cantor.

Os momentos 'tilelê' aparecem em "Abaçaiado" com muitas percussões, violões, palmas, gritos e uma segunda voz que remete aos ritmos nordestinos e ao forró de Alceu Valença. Há ainda espaço para o 'tilelê' mais low fi como "Sina Nossa" ou "Sonho de uma flauta". Também há momentos de cafonices e de vergonha alheia, como "A metamorfose, ou Os insetos anteriores ou O Processo", declamada em quase sua totalidade por Anitelli num surto de maestria e poesia (ou seria egocentrismo?) que gera algo tão chato quanto o dueto do Camelo com a Mallu Magalhães.

Essa volta aos palcos do Teatro Mágico vem bastante inspirada e tecnicamente evoluída. A banda agrega novas sonoridades à sua música e mostra que tem muito fôlego pra percorrer o caminho rumo ao topo e quer merecer cada vez mais o pedestal em que foi colocada pelos seus fãs.

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