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A (ausência de) teoria do caos

16.07.08

por Daniel Oliveira

Caótica Ana

(Espanha, 2007)

Dir.: Julio Medem
Elenco: Manuela Vellés, Charlotte Rampling, Nicolas Cazalé, Bebe, Matthias Habich, Asier Newman

Princpio Ativo:
tiros para todos os lados

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Julio Medem tem pelo menos dois longas muito bons no currículo: “Amantes do círculo polar” e “Lucía e o sexo”. Então, “Caótica Ana” é daqueles filmes que você faz uma força enorme para gostar. Mesmo com seus neo-hippies, suas hipnoses e vidas passadas. Quando a trama começa a engrenar, lá pelo meio do longa, você dá seu melhor e se agarra com unhas e dentes às viagens de Medem, por mais que elas pareçam muito erradas.

Mas não adianta. “Caótica Ana” é simplesmente ruim mesmo.

A Ana (Vellés) do título é uma pintora neo-hippie, que vive com o pai em uma caverna na ilha de Ibiza. Justine (Rampling), uma mecenas impressionada com seu trabalho, convida a moça para integrar a escola de arte mantida por ela em Madrid. Lá, Ana acaba participando de experimentos com hipnose e descobre que sempre morreu jovem e de forma trágica em suas vidas passadas.

Segundo Justine (e Medem), saber por que e como isso aconteceu trará ‘profundidade’ às pinturas bidimensionais de Ana. Seria uma metáfora interessante, se não fosse abandonada na metade do filme. Quando as hipnoses da protagonista passam a simbolizar a trajetória feminina desde a pré-história, você ainda dá um voto de confiança ao roteiro. É no momento em que “Caótica Ana” resolve abraçar o mundo, interferindo no cenário sócio-político contemporâneo, que a coisa desanda.

Depois dos atos ‘escola de arte e putaria’ e ‘psicologia e hipnose’, o terceiro ato resolve desembocar na discussão ‘crise do mundo pós-11 de setembro’. Medem quer usar o ‘caótica’ para justificar um samba do crioulo doido. Só que existe uma distância bem grande entre caos e falta de rumo. E é isso que o roteiro demonstra quando Ana entra num barco que não tinha nada a ver com a história e vai parar em Nova Iorque. Depois disso, só resta retirar suas unhas e dentes do filme, abraçar o capeta com Julio Medem e perguntar pros dois o que eles fumaram (talvez isso melhore “Caótica Ana”).

A edição, grande destaque dos trabalhos do cineasta espanhol, é convencional e cansativa. O filme é dividido em 11 capítulos marcados pela contagem regressiva usada na hipnose. Se a intenção era entorpecer o espectador, ela chega perto – lá pelo 3, você já está num estado de sonolência próximo ao sono REM.

No final, um letreiro dedica o longa à irmã falecida de Julio, chamada Ana, verdadeira autora dos quadros da protagonista. Você quase perdoa o diretor. Quase. Aí você pensa que, se ele queria prestar uma homenagem, deveria ter começado escolhendo uma atriz melhor que Manuela Vellés para interpretar Ana. E, principalmente, feito um filme decente com um roteiro coerente.

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Vellés: Caótica e má atriz, mas ainda assim muito bonitinha.

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