Um quase documentário baseado em fatos reais
10.12.07
por Daniel Oliveira
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O preço da coragem
(A mighty heart, EUA/Reino Unido, 2007)
Dir.: Michael Winterbottom
Elenco: Angelina Jolie, Dan Futterman, Archie Panjabi, Denis O’Hare, Ishaque Ahmed, Aly Khan, Irfan Khan
Princípio Ativo: Mariane Pearl
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Dois desejos dão vida a “O preço da coragemâ€: o da jornalista Mariane Pearl (Jolie) de encontrar seu marido, o também jornalista Daniel Pearl (Futterman), seqüestrado no Paquistão enquanto cobria os desdobramentos da derrubada da Al-Qaeda no Afeganistão. E o do diretor Michael Winterbottom de registrar, quase documentalmente, as mudanças e os efeitos da ‘invasão norte-americana’ na vida dos habitantes do paÃs e nas relações entre os povos locais.
Só que, enquanto esse último é uma aspiração técnico-polÃtica, o primeiro é uma força da natureza. Mariane, grávida de cinco meses, é determinação e inteligência, em uma situação em que seria fácil ser a vÃtima injustiçada e desesperada. Quando ela diz a um jornalista que, durante o seqüestro do marido, mais de dez paquistaneses foram assassinados por terroristas, não há como não admirar sua fortaleza de espÃrito e sua consciência polÃtica.
E que Angelina Jolie a retrate com respeito e sem arroubos ou expressões fáceis, mostrando sua humanidade em pequenas elevações de voz diante de fracassos na busca por Danny, é meio caminho andado para “O preço da coragemâ€. O filme é um pulsar crescente, marcado pela boa trilha sonora, do ‘coração poderoso’ do tÃtulo original, culminando na seqüência em que ela é informada da morte de Danny. É a cena que, não sem razão, pode dar uma indicação ao Oscar para Jolie – que consegue encontrar uma voz para Mariane, obrigada a botar para fora toda a força e esperança que ainda existia dentro dela.
Winterbottom tenta conciliar seu estilo documental e improvisado com a história - e o resultado varia. Ele chega a dividir a tela, mostrando de um lado a polÃcia invadindo um cortiço atrás de suspeitos e, do outro, a reação dos moradores – e é interessante que não fique claro se é à gravação ou à truculência ou aos personagens de terno-e-gravata.
Outro elemento, porém, que dá a “O preço da coragem†seu caráter documental são os bons coadjuvantes desconhecidos que cercam Jolie. E por vezes, falta um respiro à câmera sempre inquieta e aos cortes rápidos demais de Winterbottom para apreciar essas atuações.
“O preço da coragem†acaba sendo um filme em que a força da história real e de seus personagens é a estrela, e não o diretor, a atriz ou a locação. O que não é um problema. Pelo contrário: faz dele uma boa aula de jornalismo em que, contrastando com os ‘urubus’ que cercam a casa de Mariane, ela e Daniel são uma espécie em extinção - mesmo se descobrindo vulneráveis como Parker e Kent, não têm medo de fazer o trabalho sujo. Ou melhor: o trabalho duro e, eu gosto de acreditar, necessário.
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Mariane, o coração poderoso, e o quadro-diagrama da busca por Danny, o cérebro poderoso por trás dele.
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