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Enorme Miss sunshine

20.09.07

por Daniel Oliveira

Hairspray - Em busca da fama

(Hairspray, EUA, 2007)

Dir.: Adam Shankman
Elenco: Nikki Blonsky, Michelle Pfeiffer, Zac Efron, Queen Latifah, John Travolta, Christopher Walken, Amanda Bynes

Princípio Ativo:
falsidades e mentiras

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Em tempos de High School Musical, nada mais atual que Tracy, a menina gorda dos anos 60, fascinada pelo The Corny Collins show, musical de TV cheio de jovens brancos e bonitos – e com uma versão negra mensal. Quando uma das dançarinas entra em uma “licença de nove mesesâ€, Tracy vislumbra sua grande chance na seleção para a substituta.

Ela segue os passos de uma Dreamgirl, mas sob os auspícios do cinismo que paira sobre uma Pequena Miss Sunshine. Ao fazê-la aprender aos trancos e barrancos o que perdeu dormindo nas aulas (retrato da ignorância política e social que os norte-americanos têm como opção de vida), “Hairspray†escracha o que o musical das Supremes mascarou vergonhosamente: o alvejante do showbizz norte-americano. Como ainda acontece hoje, a assimilação/embranquecimento cultural dos pratos deliciosos e das músicas com mais ritmo e originalidade interessa; mas política e civilmente, é bom que os negros (ou gordos, ou gays...) enxerguem seu lugar – seja ele o lugar nenhum.

No inesperado sucesso da protagonista, o filme subverte isso com música e plástico. Ainda que, em alguns momentos, o roteiro seja mastigado e superficial e peque no ritmo, ele triunfa ao ironizar a lógica do gênero: não importa quão complicado e injusto seja o mundo – se você parar e começar a cantar e dançar, tudo se resolve.

Essa possibilidade exclusiva da ficção – faça isso na vida real e te botam numa camisa-de-força – ganha contornos metalingüísticos e tom de crítica social no cinismo das músicas e, especialmente, no apoteótico e simplista ato final. A integração racial, que em certo ponto torna-se o objetivo dos personagens de “Hairsprayâ€, não chegou a acontecer no The Buddy Dean show, programa dos anos 60 que inspirou o roteiro original de John Waters. A atração saiu do ar antes disso e esse dado é vital à compreensão do filme.

Coreógrafo de formação, o diretor Adam Shankman mostra competência nas seqüências musicais. Fora delas, porém, ele precisa contar com a parte boa do elenco – destaque para a estreante Nikki Blonsky, a excepcional blonde bitch Michelle Pfeiffer e a boa sacada de Zac Efron no papel do galã do Collins show.

Travolta dança bem, ao lado de um semi-insano Christopher Walken (lembra de Weapon of Choice?). A direção de arte é simples, mas precisa – criando um mundo falso ‘como uma nota de três reais’ – e os movimentos de câmera, junto com a edição, marcam a separação entre o universo da TV e o resto do filme.

Seguindo as regras do musical, “Hairspray†é falso, superficial e otimista. Mas se você sacar a verdade escondida, a mentira atingiu seu objetivo.

Mais pílulas:
Happy Feet: O pingüim
Escorregando para a glória
Os produtores

Tudo começou nos anos 60. Até o High School Musical.

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