Paredinha
08.09.07
por Rodrigo Campanella
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Eu os Declaro Marido e... Larry
(I Now Pronounce you Chuck and Larry, Estados Unidos, 2007)
Dir.: Dennis Dugan
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Jessica Biel, Steve Buscemi, Dan Aykroyd, Ving Rhames
Princípio Ativo: it´s raining man
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É uma espécie de audiência de julgamento para comprovar se aquele par de bombeiros realmente forma um casal. Mas a verdade é que o viúvo Larry (James) convenceu seu amigo de toda vida Chuck (Sandler) a se passar por seu marido apenas para ter alguém de confiança que cuidasse de sua pensão e dos filhos, caso ele morresse. Na frente do júri, cada um deve testemunhar em separado sobre o outro. Uma montagem paralela costura os dois depoimentos, como um casal em fim de caso que remonta os pedacinhos de uma vida juntos.
É exatamente ali que a ficha cai.
A favor de “Eu os Declaro Marido e Larry†dá para dizer que é um filme roliçamente simpático. Tem aquela simpatia que não deixa a gente pensar que perdeu uma hora e tanto da nossa vida. E é roliço na tocada de comédia para televisão e nas camadas de piadas inofensivas, levadas do modo mais macio pelo diretor Dennis Dugan.
Mas essa maciez em excesso é a pista de que um esqueleto está enterrado debaixo desse armário. Porque, naqueles depoimentos, Chuck e Larry revelam sem perceber que foram e ainda serão um casal por toda a vida – havendo ou não roçar de pêlos ao longo dela. Quando o filme resolve ignorar isso e aplicar um discurso ‘moral da história’ que parece um barbante tentando dar nó numa bexiga cheia de furos, a hora é convidativa para pensar que coisa é essa.
Porque provavelmente é um filme que diz muito sobre a cultura (a americana, a nossa) de hoje: uma cultura de revestimento de parede, em que uma tonelada de ladrilhos (opacos) serve para esconder o reboco vagabundo e a construção medrosa que estão por baixo. “Eu os Declaro†tem medo mortal do próprio tema em cima do qual quer fazer piada e ‘refletir’. Ajuda saber que o roteiro final de Alexander Payne e Jim Taylor (escreveram Sideways e Eleição) foi remixado sem dó por Adam Sandler durante a produção do filme.
E aà entra a piada final.
Sandler é nesse filme um cara que parece ter perdido apenas metade do cérebro. Se sai bem melhor que em seus papéis habituais, quando parece ter perdido as duas metades. Mas fica estranha toda a necessidade de botar banca de machão, fazendo um bombeiro que precisa levar diariamente quatro coelhinhas da playboy para a cama. Isso somado ao fato de que, se o filme tivesse vinte minutos a mais, provavelmente setenta por cento dos personagens heteros iam se revelar gays por toda a vida.
E, com tudo isso, Chuck e Larry ainda não iam ficar a vontade para ver o casal que são, sexo à parte. A vida é complexa, esse filme não. Ele é velado, e sintomático.
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