Ricky, Napoleão e a Glória (Gaynor)
09.08.07
por Daniel Oliveira
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Escorregando para a glória
(Blades of Glory, EUA, 2007)
Dir.: Will Speck e Josh Gordon
Elenco: Will Ferrell, Jon Heder, Jenna Fischer, Craig T. Nelson, Will Arnett, Amy Poehler, William Fichtner
Princípio Ativo: Ferrell & Heder
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“Escorregando para a glória†parte do princÃpio de que, se o cinema pode sacanear os futuros cancerosos viciados em tabaco, pode ridicularizar, também, a viadagem envolvida em determinados esportes – no caso, a patinação artÃstica no gelo. E o termo é esse mesmo: viadagem, porque “afeminado†ou “homossexualidade†são sutilezas que o roteiro desconhece. A inteligência e a ironia fina daquele longa do cigarro passam longe daqui. E, se isso te ofende, esse definitivamente não é seu filme.
Will Ferrell e Jon Heder não precisam se esforçar muito nos papéis de Chazz e Jimmy, dois patinadores rivais que, após uma briga, precisam se unir e voltar como a primeira dupla homem-homem do esporte. Assim como a Jade no salto sobre o cavalo do Pan que lhe deu o ouro, eles podem se dar ao luxo de se limitar aos movimentos obrigatórios e ainda assim estar acima da média.
Ferrell abusa da escatologia de ser ele mesmo: ver seu “abdômen†após o banho é uma das experiências mais desagradavelmente engraçadas de 2007. Já Heder diz todas suas frases como um Rivers Cuomo de quem tiraram os óculos e é difÃcil escolher se ele é mais ridÃculo se jogando ao chão gelado de cueca, ou no seu colant de pavão.
Ambos já fizeram isso antes, e um pouco melhor, em “Ricky Bobby†e “Napoleão Dinamiteâ€, respectivamente, mas a disputa entre os dois é o Brasil X Cuba de “Escorregandoâ€. É ela que segura grande parte do filme, já que os outros personagens são negligenciados pelo roteiro, em função do espetáculo dos protagonistas. Parece que, como o Thiago Pereira, eles estão brigando sozinhos – até o plano final a la James Bond dos irmãos Waldenberg, a dupla adversária, para eliminar a concorrência, que resulta numa perseguição absurda e hilária.
Os diretores estreantes Will Speck e Josh Gordon abusam dessas referências a outros filmes. Especialmente na trilha, seja embalando a perseguição acima, seja emulando temas encorajadores de filmes esportivos. O Lótus de Ferro é outro exemplo, descendendo direto dos “movimentos difÃceis só executados no finalâ€, como o golpe da águia no “Karatê Kid†e similares. O que está em jogo aqui, no entanto, não é metalinguagem, nem paródia, e sim pura tiração de sarro.
Se “Saneamento básico†queria dar uma aula de clichês do cinema, “Escorregando†quer repetÃ-los, com Ferrell e Heder fazendo a “Dança do siri†ao mesmo tempo. Sem a inteligência de um Jorge Furtado ou os duplos sentidos de um Billy Wilder, quer colocar um menino loirinho patinando de colant ao som de Con te partiró e fazer você rir do quanto isso é gay. E, bem, foda-se o politicamente correto, é mesmo.
Graça. Leveza. Técnica. 6.0 5.9 5.9 5.8 6.0
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