Jørgen de Copenhagen, ou Maria do Bairro versão cult Dinamarca
03.08.07
por Daniel Oliveira
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Depois do casamento
(Efter bryllupet, Dinamarca/Suécia, 2006)
Dir.: Susanne Bier
Elenco: Rolf Lassgard, Mads Mikkelsen, Sidse Babett Knudsen, Stine Fischer Christensen, Christian Tafdrup
Princípio Ativo: novelão
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Audição
Jacob (Mikkelsen) é o coordenador de um orfanato na Ãndia, que se vê obrigado a voltar à Dinamarca, seu paÃs natal, para conseguir o patrocÃnio de um misterioso empresário, Jørgen (Lassgard). O que se segue no filme, após a chegada dele, é uma série de revelações e reviravoltas dignas de um dramalhão mexicano.
Tentando imprimir emoção e veracidade ao clichê dos diálogos e situações, os atores levantam a voz em quase todas as cenas – num mecanismo tÃpico do gênero. “Somente†exagerados no inÃcio, os gritos se tornam irritantes à medida que o tempo passa, forçando para tornar identificável algo simplesmente batido.
Visão
A diretora Susanne Bier mantém, com talento, o controle sobre seu estilo de câmera na mão, movimentando-a mais quanto mais tensa fica a história. As tomadas da Ãndia no começo são especialmente bonitas, lembrando “O jardineiro fielâ€. Só que é triste ver talento desperdiçado em um trama tão fraca.
Os belÃssimos super closes nos olhos dos personagens, que ela usa durante todo o filme, perscrutam uma profundidade e uma reação deles aos acontecimentos a que o roteiro nunca corresponde. Anna, filha de Jørgen, e seu noivo Christian (protagonistas do casamento do tÃtulo) são exemplos claros: definidos em uma única fala de uma bêbada para Jacob no casamento, eles se resumem ao que é dito ali e nunca se desenvolvem. Mesmo Jørgen, cujos objetivos movem o filme, deslancha para o ‘sentimentalismo gritado’ no final.
Paladar
Com isso, falas incomodamente simplistas, como “se eu soubesse que você ia morrer, não ficaria tão ocupada com outras coisasâ€, descem goela abaixo com gosto de doce em que erraram a mão no açúcar. Não é nem que o sentimentalismo soe exacerbado para os nórdicos. A intenção de Bier de mostrar que eles também ‘sabem sofrer’ e expressar isso seria louvável, não fosse.pelo tom acima o tempo todo, que nem a ThalÃa no auge dos seus dias de Maria tornaria aceitável.
Cheiro
À medida que a esperança de algo realmente original abalar a história desvanece, o público percebe nos cenários grandiosos e milionários o cheiro do isopor e papelão usados pelos roteiristas em sua maquete cult do México. Aspectos positivos, como a edição e a trilha, são sufocados pelos negativos e...
Tato
...a poltrona do cinema fica cada vez mais desconfortável. “Depois do casamento†vai se perdendo em cenas mais e mais constrangedoras, como os discursos forçados do jantar de aniversário, e tudo que se consegue pensar é: “esse filme já acabou há uns 20 minutosâ€. E você está errado. Ele acabou assim que Jacob saiu da Ãndia e uma promessa intimista virou uma novela cult.
São gêmeos mas, pelo menos, não tem aquele lance de um ser bom e outro mau.
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