Quem mexeu no meu queijo?
07.07.07
por Daniel Oliveira
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Ratatouille
(EUA, 2007)
Dir.: Brad Bird
Vozes de: Patton Oswalt, Ian Holm, Lou Romano, Peter O’Toole, Brad Garrett, Janeane Garofalo, Will Arnett
Princípio Ativo: Brad Bird
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“Ratatouille†permite 1.001 leituras. Sugiro apenas quatro porque aqui, assim como na culinária francesa, menos é mais:
É um filme de auto-ajuda que desconstrói a auto-ajuda
Com a história do ratinho Remy, que ajuda o destrambelhado Linguini a se tornar o chef mais famoso de Paris, o filme convida cada espectador a encontrar o Remy dentro de seu chapéu. O ratinho é um poço de potencialidades castrado pelas “regras†e pelo pai. Ele só sai do casulo quando escuta o espÃrito do grande chef Gusteau e decide ajudar o perdido Linguini.
Não é à toa que culinária seja a “massa†do filme e Gusteau surja de um livro de receitas - nada melhor como metáfora da auto-ajuda. Assim como o chef afirma para o ratinho que ele não passa de sua imaginação, Remy também é o “fantasma†do amadurecimento que desponta em Linguini. “Ratatouille†mostra que auto-ajuda é auto mesmo e grita contra os livros que insistem em capitalizar em cima disso. E o melhor: o faz com bom humor. Cortesia de Patton Oswalt (King of queens), como Remy, e Brad Garrett (Everybody loves Raymond), como Gusteau, que trazem o ritmo ágil do sitcom para as piadas e diálogos do filme.
É o filme que Brad Bird fez depois de “Os incrÃveisâ€
Não é fácil fazer um filme depois de ter dirigido algo considerado um dos melhores produtos de seu gênero - James Cameron que o diga. Brad Bird supera com maestria o desafio: a animação, mais madura, enche os olhos sem gritar para eles. Está mais preocupada em contribuir para o roteiro, alicerçado no (bom) diálogo. O ritmo alucinado das cenas de ação não interrompe a história e a trilha de Michael Giacchino se destaca mais uma vez, lembrando, em meio ao inglês, que estamos na França.
É um filme sobre a arte
Assistir a Remy fazer sua primeira sopa no filme ressoa diretamente uma seqüência do recente “Perfumeâ€. A câmera gira em torno do ratinho e a fotografia joga toda a luz nele: no melhor estilo “Amadeusâ€, estamos diante da criação de uma obra de arte. Segundo o longa, todos podem ser artistas, mas poucos farão obras primas. Remy é um deles.
É um filme sobre cinema
Com “Ratatouilleâ€, Brad Bird, ao mesmo tempo, defende o cinema autoral e ilustra a indústria hollywoodiana: o poder deve estar nas mãos do diretor (Remy), que comanda o executor/produtor (Linguini), parceria fundamental para o sucesso junto ao público. Sem contar a cena que explica, com beleza e simplicidade tocantes, a relação entre crÃtico e arte.
E, por fim, alfineta os veteranos da Disney (a equipe de cozinheiros) avisando que os nerds da Pixar (os ratos) vieram para ficar. E, sim, ratos de computador sabem fazer arte.
O ótimo Remy: mais uma ameaça da Pixar aos Gianecchinis da vida.
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