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O horror, o horror

30.05.07

por Leonardo Rodrigues

The Horrors - Strange House

(Stolen Transmission - Importado, 2007)

Top 3: “Gil Sleepingâ€, â€Draw Japanâ€, “Count In Fivesâ€.

Princípio Ativo:
Horror de butique

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E veio o novo milênio. Encurralado entre a eletrônica e o rap metal, o rock da geração internet rompeu barreiras de mercado e se ancorou em grupos dos mais variados pedigrees. A maioria converge em um som simples, eficiente conversor de falta de originalidade em energia pulsante. De uma hora para outra, nada é mais cool do que um visual meticulamente retrô junto à reverência explícita ao que de mais básico o estilo pariu nas últimas quatro décadas. Em pleno 2007, quando todos os guetos já pareciam ter sido repaginados, eis que surge o The Horrors.

O quinteto é formado por Faris Rotter (vocal), Spider Webb (órgão), Joshua Von Grimm Vibestation (guitarra), Tomethy Furse (baixo) e Coffin Joe (bateria, com a graça inspirada em nosso José Mojica). Sua primeira coleção de faixas (EP sabiamente intitulado The Horrors EP) foi estrategicamente lançada no mercado americano em outubro de 2006. Era um gorduroso aperitivo com um terço do que estaria no então futuro debute. Eles jogaram a isca e deram-se muitíssimo bem: com apenas um par de singles no currículo já ganharam a capa da NME.

Agora é chegada a vez de Strange House, revival gótico como pouco se viu. Mas não imagine Bauhaus ou Siouxsie & the Banshees. A cova deles é mais embaixo. A temática está mais para uma mistura de The Cramps, quadrinhos de terror e Zé do Caixão do que para Sisters Of Mercy. O visual e a pose do grupo são algo como uma adaptação emo-vampiresca dos jogos de sombra e luz de Tim Burton. Além das referências darks, o álbum passeia pelo punk-rock britânico, pelas bandas de garagem norte-americanas dos anos 60 e por comedidas inserções de surf music.

Logo de primeira, vem a releitura de um clássico de David Edward Sutch, “Jack The Ripperâ€, com linha de baixo devidamente surrupiada do tema de Peter Gun, de Henry Mancini. Sem delongas os Horrors destilam todos os seus ingredientes (não muitos, por sinal). Como nos teclados a la Animals de “Count In Fivesâ€, homenagem mais que explícita ao Count Five – grupo cunhado como punk pelo crítico Lester Bangs ainda em 1971. E assim flui o disco, que termina melhor do que começa, ao som da instrumental e dissonante “Gil Sleeping†e da quase electro “A Train Roarsâ€. Entre berros desconjuntados e os efeitos do pedal construído pelo próprio Hayward, a banda pavimenta o caminho de um estilo já muito bem traçado.

Em tempos em que o novo rock começa a dar sinais de cansaço, a atitude pretensamente garageira do grupo soa quase como espontaneidade programada. O hype como fim, não mais como meio. Ao menos mata-se a curiosidade de como seria a trilha da Família Monstro do século XXI.

Esse do canto direito é tão mau que joga bituca de cigarro no chão em plena foto de divulgação

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