Bem-casado
24.05.07
por Rodrigo Campanella
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Princesas
(Espanha, 2005)
Dir.: Fernando León de Aranoa
Elenco: Candela Peña, Micaela Nevárez, Mariana Cordero, Llum Barrera
Princípio Ativo: público e pessoal
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Em “Princesas†a maioria dos relacionamentos dura pouco. Mesmo assim, alguns casamentos que formam a história do cinema estão ali.
Cinema é o casamento entre um circo e uma arte
Caetano Veloso lembrava semana passada na Folha que o cinema “é popular, nasceu no circoâ€. Para ser exato, nas exposições de feira, onde era uma atração mecânica exibindo imagens que se moviam. Só depois de algum tempo ele trancaria o público no breu de uma sala para brincar de moldar o tempo e o espaço. E viraria arte.
Zulema e Cayetana são prostituas na Espanha. Uma é imigrante ilegal, sustenta o filho pequeno e busca um visto. A segunda quer “ser a mulher ideal de um homem que a busque depois do serviço†– onde quer que seja o trabalho do dia. Mas o dramalhão possÃvel dessa sinopse nunca acontece. Porque “Princesas†é arte na ponte que faz entre nós e a intimidade, rochosa ou frágil, dessas duas. Sem esquecer que o bom circo vai do riso ao susto antes que se possa prender o fôlego.
Cinema pode casar italianos e argentinos
O diretor Fernando León de Aranoa (“Segunda Feira ao Solâ€) não é italiano. Mas sua vista, ou binóculo, conseguiram alcançar os filmes feitos daquele outro lado do Mediterrâneo. As situações não tem qualquer ligação, mas no meio de “Princesas†você pode se lembrar de “BelÃssimaâ€, de Luchino Visconti ou “Nós que nos amávamos tantoâ€, de Ettore Scola. Porque em qualquer desses filmes os fatos da vida não acontecem: eles despencam, como cachoeira, sobre os personagens.
É uma sensação de urgência, de vida presidiária. Daà o mal-estar de Cayetana quando alguém explica que certa balança só funciona quando lhe colocam uma moeda. Ou seu medo de sabotar as próprias chances que a faz prestar serviço para um cliente no banheiro, enquanto seu namorado espera na mesa. E nessas imagens, câmera fixa ou na mão, a referência é o melhor cinema argentino recente: a intimidade da vida miúda, o tempo para que uma história ganhe seu fôlego.
Cinema é casar uma bilheteria e uma engrenagem
As colegas de Cayetana funcionam como contraponto cômico. A imigração de outras prostitutas é o ponto de tensão. Sem tanto maniqueÃsmo, esses pontos se cruzam. Mas há diálogos e situações (especialmente os desencantos) parecendo uma barreira que o filme deve saltar antes de conquistar o final. Mas ele tem boas pernas. E se cinema é também psicanálise, vale lembrar que “Princesas†leva a cabo, em três cenas e consciência limpa, uma vingança sexual que no circuito comercial americano demoraria um filme todo – ou até uma trilogia.
Entre o céu e o inferno, as compras
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