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O mal maior

19.04.07

por Rodrigo Campanella

A Colheita do Mal

(The Reaping, EUA, 2007)

Dir.: Stephen Hopkins
Elenco: Hilary Swank, David Morrissey, AnnaSophia Robb, Stephen Rea

Princípio Ativo:
bússola milionária

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Não é a praga de gafanhotos, uns poucos sapos voando ou o rio viscoso por três quilômetros de sangue. Nenhum desses é o terror de Katherine Winter (Swank), uma ex-missionária, hoje descrente profissional, que dedica dias de trabalho e noites na penumbra para provar que milagres são efeitos em cadeia de vazamentos químicos. Convidada para dar uma aula prática em uma cidade do Texas que parece reviver as pragas bíblicas dos judeus no Egito, ela encontra um mal maior: a crença Hollywoodiana numa fórmula exata que converte filmes em dinheiro.

A ruindade do material de divulgação (sinopse, trailer, cartaz) parecia prenúncio de que esse seria o primeiro passo de Swank na “maldição do Oscarâ€, que entrega uma escadaria abaixo na carreira após se ganhar o menino de ouro – Hale Berry, mulher-gato, pode contar mais. Porém, quem desejar ver assim terá que se esforçar até para dizer que Swank começou por esse terror – porque classificar por gênero essa “Colheita†é algo que só os donos de locadora e suas prateleiras se arriscarão a fazer.

As pragas egípcias estão lá, com explicação anexada, mas no correr do filme elas passam pela tela tão rápido, tão a troco de desculpa, que você começa a achar que pode haver algo interessante se desligar a historinha. E há. Fosse um filme B, feito com orçamento B, “A Colheita do Mal†seria um filme a ser lembrado. Porque daí compraria liberdade para apostar no absurdo das situações que arma, na corda bamba dos gêneros, na desorientação da história.

Mas “A Colheita...†tem produção milionária, atriz famosa coroando o título e marketing variado. Então precisa entrar na moldura (anciã) onde o herói passa por provações para atingir um novo estado, ‘superior’ ao do início. Para encapar tudo, ouça-se George Lucas e não deixe, por um segundo sequer, o espectador deslocalizado dentro da história. Composto pronto, deixe fermentar nas bilheterias.

Só que pode haver o risco de o tonel reagir mal com o líquido. Nessa “Colheitaâ€, o caldo amargo insiste em emergir mesmo que o roteiro adaptado a crianças de três anos tente afogá-lo. A ousadia de se mergulhar a câmera por cinco minutos num rio de sangue fica apenas na vontade, mas há vertigens de som, imagem e (especialmente) lógica capazes de acertar quem assiste na garganta, talvez no estômago. Não é filme de grito - para sustos, é mau como um pica-pau. Não é um cinema com o corpo (e membros avulsos), mas para ele. Visto de certo ângulo, é a história de uma bússola tentando matar a sensação de um espectador. Dá empate técnico.

Swank posa para foto de férias. Ao fundo, rios vermelhos.

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