O fim da festa
05.01.07
por Rodrigo Ortega
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Bloc Party - A Weekend in the City
(Warner, 2007)
Top 3: "The Prayer", "Hunting for witches", "Uniform"
Princípio Ativo: Cidade
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Marcelinha,
Como estão as coisas em Recife? Enquanto escrevo isto, faz dois dias que não te vejo. Parece que estamos longe há meses e também parece que você foi ali na cozinha pegar um copo d'água e já volta. Ando sem noção de tempo. Será culpa minha ou o tempo das coisas mudou mesmo? Veja só, estou ouvindo este disco do Bloc Party, não sei se com antecedência (o disco nem foi lançado) ou com atraso (ele vazou há várias semanas).
Já devo ter te falado que Bloc Party é uma banda do coração pra mim, porque eles são "engajados" sem deixarem de ser divertidos e simplesmente porque eu acho o som legal. O primeiro disco me lembra da gente fingindo que o espaço entre a minha cama e a cama do meu irmão era uma enorme pista de dança. Este segundo é meio diferente. Ele me lembra hoje, o fim do oba-oba.
Sabe a hora que a bebida "sobe", que a droga "bate"? Então, esse disco "bateu" em mim quando eu passava de ônibus pela Linha Vermelha, esperando que uma bala perdida não espatifasse a janela na direção da minha cabeça. Tem as canções dançantes de sempre, mas outras são diferentes do que a gente esperava, bem arrastadas. Achei um disco pessimista. Não é melhor que o primeiro, mas é legal ver que a banda teve coragem de fazê-lo.
O cinismo é uma das maiores habilidades destas bandas novas que a gente adora. Sem dizer nada eles insinuam: "peguei uma roupa suja no chão da minha casa e cá estou na última moda" ou "fiz uma balada displicente pra tirar onda e todas as rádios estão tocando". Não que isto não seja legal. O Bloc Party, por exemplo, faz umas letras inconformadas, mas um som pra bombar na pista (“vamos mexer o traseiro porque o mundo tá acabandoâ€).
A primeira metade do segundo disco é toda com músicas assim. As letras são em primeira pessoa, e Kele Okereke encarna personagens perdidos, tipo “I was na ordinary man, with ordinary desires/ I watched tv and it formed meâ€, da ótima “Hunting for witchesâ€. No clipe do primeiro single, “The Prayerâ€, dá pra ter uma noção de como eles olham para os tais personagens.
Mas no resto do disco, Kele começa a olhar para si, e joga o cinismo para escanteio. Não são melodias muito inspiradas, mas têm uns bons momentos, e as letras são bonitas. Estranho ver uma banda muderna assim beirar o piegas (“Head on my chest, a silent smile / A private kind of happinessâ€, canta em “Sundayâ€). As histórias têm realmente a ver com nossa vida, nossos fins-de-semana na cidade. Mas sobre isso te falo depois, porque apesar de parecer uma carta, isto é uma resenha e tem um monte de gente olhando.
Abraço,
Ortega
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