Lembranças, alegrias e dores
07.11.06
por Igor Costoli
|
O Ano em que meus Pais SaÃram de Férias
(Brasil, 2006)
Dir.: Cao Hamburguer
Elenco: Michel Joelsas, Germano Haiut, Daniela Piepszyk, Caio Blat, Paulo Autran
Princípio Ativo: Se tudo funciona, difÃcil achar o que é
|
|
receite essa matéria para um amigo
Nome
Numa época em que tempo é um bem escasso, eu só dispunha dele o suficiente para ir a um único filme da mostra Fassbinder, que rolou em abril. Escolhi O amor é mais frio que a Morte porque pra mim era óbvio que um filme com este nome não poderia ser ruim. Quem teve tanto cuidado para escolher esse nome não se contentaria com pouco. O mesmo acontece com O ano em que meus pais saÃram de férias.
Data de Nascimento
O filme se passa em 1970, mas este nasce de uma história que começa em 1964. Cao Hamburguer nasceu em 1962. Mauro (Michel Joelsas), o protagonista, pelo cálculo nasceu em 1958. E toda a memória afetiva que se desenha só poderia pertencer a alguém que tivesse feito Castelo Rá-tim-bum e parte daquela época. Metaforicamente, ao mesmo tempo.
Sexo
Não precisa disso pra lotar salas de cinema.
Endereço
O ano é endereçado a todos. Os que viram o Tri brasileiro no México, os que viveram aqueles anos difÃceis, os que perderam familiares e amigos ou foram perdidos de seus familiares e amigos. Quem não é contemporâneo, só precisa de sensibilidade para sentir que a história também é sua.
Identidade
É a história da perda de um ano, o ano em que infância e realidade brigaram feio pelas recordações de Mauro, cada um apertando onde mais doÃa. A alma do filme é um menino deixado pelos pais na casa do avô. Duas personagens estão ali como que pra puxá-lo pelos braços: o Shlomo (Germano Haiut), vizinho de seu falecido avô que passa a cuidar dele, e a pequena Hanna (Daniela Piepszyk), que sempre o traz de volta ao mundo onde crianças são apenas crianças.
A palavra ditadura ou regime não aparece uma única vez, porque seria redundante. Cao encontrou uma maneira de mostrar a tristeza daqueles anos através dos olhos de quem não os entendia e foi por eles pego de surpresa.
Órgão Expedidor
Tudo nesse filme foi feito com cuidado. Desde a produção, todos parecem ter entregado a alma ao longa, de modo que cenografia, figurino, fotografia, todos aparecem de mãos dadas, como numa dança de roda. A montagem do filme obedece a um ritmo muito próprio, lento. Um tempo de criança, sempre em alta velocidade e por isso cercada da impressão eterna de tédio, dos dias iguais, da atmosfera de mesmice que cerca o tempo que falta para o reencontro com os pais.
Posição
Em parte inspirado no livro de Luiz Schwarcz, o filme quase sai homônimo à obra, Minha vida de Goleiro. Essa, Cao pegou de mão trocada, salvando o que seria uma perda irreparável. “Goleiro é o jogador que está sozinho†é a ironia perfeita para o exÃlio de Mauro, naquele que figura com a camisa 1 dentre os filmes nacionais deste ano.
Atuação magistral do único que não pode errar
» leia/escreva comentários (19)
|