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Conversas de cozinha

12.08.06

por Daniel Oliveira

Histórias de cozinha

(Salmer fra kjøkkenet, Noruega/Suécia, 2003)

Dir.: Bent Hamer
Elenco: Joachim Calmeyer, Tomas Norström, Bjorn Floberg, Reine Brynolfsson

Princípio Ativo:
rixas entre vizinhos

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A rivalidade entre Brasil e Argentina, com seus “macaquitos†e afins, não deve ser a coisa mais clara do mundo para um norueguês entender. Jogado assim, no ar, provavelmente o deixaria perdidinho. É o mesmo que acontece com algumas gags de “Histórias de cozinhaâ€, comédia inusitada do diretor Bent Hamer, exibida no Indie 2006.

O filme faz referência a uma série de picuinhas entre suecos e norugueses. São tiradas que te deixam com um “ahn?†enorme na cara, até você se acostumar – e mesmo rir com algumas no final. A principal rixa, no longa, diz respeito à postura dos dois países durante a Segunda Guerra.

Passado após esse conflito, o filme narra a pesquisa realizada pelos suecos sobre homens solteiros de uma pequena cidade da Noruega e seu comportamento na cozinha. Seguindo uma linha “positivistaâ€, os observadores suecos devem manter uma postura isenta e sentar em uma cadeira na cozinha do observado, sem conversar com ele nem interferir no seu dia-a-dia.

Esqueça que se trata de um filme europeu e que parece ser cult. A situação descrita acima gera uma série de momentos extremamente engraçados entre Isak e Folke, respectivamente observado norueguês e pesquisador sueco, protagonistas do filme. O silêncio entre os dois no início da relação e o confinamento em um ambiente pequeno, acentuado pelo formato de tela, lembram a dinâmica entre os protagonistas de “Em busca do ouroâ€, de Charles Chaplin.

O filme parte de um humor inocente para construir uma história envolvente e autêntica sobre as falhas de comunicação entre Isak e Folke e como eles, no final das contas, acabam se tornando bons amigos. A cena do aniversário de Isak é constrangedoramente engraçada e a boa dinâmica entre os atores Joachim Calmeyer e Tomas Norström remete a parcerias cômicas antológicas – especialmente Jack Lemmon e Walter Matthau.

É fato que demora um pouco até você entender a trama descrita no terceiro parágrafo – em parte, pelo problema citado no segundo. Mas superado isso, o filme desce como uma boa conversa na cozinha. E Bent Hamer ainda arruma espaço para metalinguagem. Folke observa Isak e senta em uma cadeira alta, denotando sua posição privilegiada. Isak, por sua vez, fura um buraco no teto acima do pesquisador e observa suas anotações. Os dois são observados com uma desconfiança ressentida pelo melhor amigo de Isak, Grant. E, claro, todos eles são observados por nós, espectadores.

Virtuosismos à parte, são as linhas que diagramam um filme simples e inesperado. E não vai ser nada surpreendente se, com a falta de criatividade atual em Hollywood, ele acabar sendo refilmado por lá.

Se eu soubesse como é Parabéns pra você em norueguês, essa seria a legenda.

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