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Memórias remasterizadas

18.07.06

por Rodrigo Campanella

Superman - O Retorno

(Superman Returns, Estados Unidos, 2006)

Dir: Bryan Singer
Elenco: Brandon Routh, Kate Bosworth, Kevin Spacey, James Marsden, Frank Langella, Marlon Brando

Princípio Ativo:
Brilho eterno, com lembranças

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Lá pela hora em que Clark Kent chega ao Planeta Diário, desengonçado por conta de um par de malas e um mar de gente, vem a certeza de que é possível que o diretor Bryan Singer não tenha feito um filme. Ele parece sim ter metido as mãos na própria cabeça e tirado lá de dentro, inteiro e sem retoques, um bloco de memórias e afeto pelo Super em película dos anos 80. Lembranças são o sangue azul que corre em cada cena, mas a nobreza é tanta que a emoção falta.

Eu ainda consigo lembrar de ter cinco ou seis anos e assistir Christopher Reeve girando a terra ao contrário, e de um Luthor que, para mim, passou ser o Gene Hackman. Era o tipo de filme que pegava profundamente na memória, mas uma memória de televisão. O novo filme é a clara chance para muitos vintões e trintões se emocionarem vendo o homem-de-aço voando no cinema. Mas fica a dúvida se o resto do público também é convidado.

O diretor Bryan Singer lembrava todo o tempo, em entrevistas, que sua identificação (de fã) com o Superman vem do fato de ambos terem sido adotados quando crianças. Mas dizer que isso rendeu uma história em que o azulão é obrigado a encontrar seu lugar na Terra, depois de cinco anos de ausência, é balela da sinopse. Ele volta para se encaixar perfeitamente na posição de salvador do mundo contra a megalomania de Lex Luthor, provando mais uma vez a sabedoria de “Corpo Fechado†(2000) – os supervilões só existem onde há super-heróis.

Já nos créditos do novo filme, eu lembrava o quanto era cansativo assistir a cada “Senhor dos Anéisâ€. Depois de quase três horas de espetáculo arremessado nos olhos, era indispensável um descanso e uma recarga na glicose. O retorno do Superman tem duas horas e meia, muito mais leves. Se o filme não ousa na narrativa ou na história, a ousadia parece ser o bom senso. Tudo que poderia render um espetáculo barulhento e cheio de coisas brilhando foi sumariamente cortado. Sobrou um filme redondo, bem acabado e que possivelmente vai envelhecer bem.

Os anos 80 estão lembrados do visual ao ritmo do filme e a mistura de roupas e prédios retrô com século 21, ganha sintonia fina graças a um bom jogo de cor e luz. Sintonia que falta no casal-chave. Brandon Routh parece meio deslumbrado como Superman e Kate Bosworth não tem ainda aquela petulância sensacional de Lois Lane.

Ainda assim, “Superman – O Retorno†é uma das homenagens mais elegantes que o universo pop já recebeu. Mas o afeto de Singer pelo passado é tão grande que sobra pouco espaço para o público entrar na história. Ele já provou (com X-Men), que é no segundo filme que a emoção começa. Tomara.

Sim, você conhece eles de algum lugar.
Mas eles mal se conhecem ainda...

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