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Um estranho familiar

02.07.06

por Luciana Dias

Devendra Banhart – Cripple Crow

(XL Recordings – Importado, 2005)

Top 3: "Now That I Know", "Santa Maria de La Feira" e "I Feel Just Like A Child".

Princípio Ativo:
Singularidade acessível

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Quem não se lembra do passado está condenado a repeti-lo. Lembra dessa frase? Pode ter certeza que Devendra Banhart lembra. A primeira vez que meu pai escutou Cripple Crow ele disse: isso me soa familiar. É bem por aí. Há algo de primitivo nas canções de Banhart, como se sua música estivesse sempre tocando por aí e você que não tinha prestado atenção nelas. É, eu sei, primitivo, atemporal, nada de novidades arrebatadoras então, certo? Não soa novo mesmo, mas e daí, talvez seja exatamente esse o poder que essas canções tem.

Nascido no Texas e criado na Venezuela, Devendra Banhart é considerado o grande expoente e porta-voz de uma prolífica cena musical que tem recebido denominações variadas como new folk, freak folk, psych folk etc. O músico não gosta de definições, e para evitá-las deu um nome ao coletivo de músicos que fazem parte dessa cena: "The Family". A turma inclui bandas novas incríveis como Vetiver e Espers, e cantores e compositores que colaboram com Devendra, como a adorável Joanna Newsom. É ao lado da família que Banhart aparece na capa a la Sgt. Peppers de Cripple Crow.

Cripple Crow deixa um pouco de lado o estilo rústico e low-fi dos álbuns anteriores, e recebe uma produção mais dedicada, abrindo mais possibilidades para a música de Banhart. Se em seu debut ele cantava na sugestiva canção "Roots": "I don't play rock'n'roll", em Cripple Crow há até róquinhos bacanas como em "Long-Haired Child". Outra de suas inspirações confessas é a Tropicália, e em Cripple Crow dá pra perceber que o músico acha Caetano lindo. Banhart enfatiza a importância do "canibalismo artístico" pregado por esse movimento ao incorporar sonoridades diversas que vão do folk britânico ao blues americano ao reggae e outros ritmos latinos.

Ele não incorpora apenas uma multiplicidade de sons, mas de sentimentos. Canções sobre amor, paz, guerra, desespero, males, tudo isso composto sob as luzes e cores de embaçadas lembranças infantis. Devendra nos lembra que não há ordem no mundo, mas há beleza no caos. E se esse texto está soando hippie demais, larga ele e vai escutar o disco. Logo na primeira faixa, "Now That I Know", nós são desfeitos nos corações mais cínicos. Agora, se você não tem coração, não há nada que se possa fazer por você. Mal aí.

Para quem ainda tem músculo no lado esquerdo do peito, resta torcer para que o disco saia logo no Brasil. Quem sabe a Sum Records, que lançou por aqui Niño Rojo, o terceiro disco do moço, não fique motivada pela já confirmada e IMPERDÃVEL vinda de Devendra Banhart ao Tim Festival 2006.

Devendra é lindo

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