Alegria e distensão
17.06.06
por Rodrigo Campanella
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Ãrido Movie
(Brasil, 2006)
Dir.: LÃrio Ferreira
Elenco: Guilherme Weber, Giulia Gam, José Dumont, Selton Mello, Mariana Lima, Gustavo Falcão
Princípio Ativo: alucinógeno a seco
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Existem cineastas de escritório (Ron Howard) que à s vezes fazem um filme até simpático (Uma Mente Brilhante) e no resto do tempo chorume cinematográfico (A Luta pela Esperança ). E existem diretores - gente que, faça o filme que for, dá a cara a tapa em pelÃcula e se dispõe a gastar sangue, tutano e garganta em forma de filme. LÃrio Ferreira é do segundo time.
Isso não garante bom filme, mas é um compromisso de honestidade valioso e raro. ‘Ãrido Movie’ toma para si a tarefa de converter em cinema pop um pensamento novo na pelÃcula nacional que cruza tecnologia e lama, falta de água e comida e excesso de vontade de falar para o mundo. Do mesmo caldo já vieram Cinema, Aspirinas e Urubus , Cidade Baixa e Madame Satã.
Depois do filme, eu tinha a cabeça pesada, a boca seca, o estômago estranho. ‘Ãrido Movie’ bate mal. Mas, bom primeiro sinal, sobra uma vontade tremenda de ter alguém para comentar na saÃda. Não tinha ninguém. Só passados alguns dias a poeira assentou na cabeça.
A sensação de ressaca no final não é defeito, mas carta de intenção. E impressiona que ela não vem da montagem do filme, como é habitual (A Concepção). A porrada é construÃda em conjunto por narrativa, atuações (Weber, Gam e Dumont são um trio maravilha), cortes, luz. É um susto perceber depois como cada coisa que parece aleatória na tela foi pensada com cuidado.
A história-chave é a de Jonas (Weber), homem do tempo da tv que volta para a terra natal para enterrar o pai e ser obrigado pela famÃlia a vingá-lo. Cruzam seu caminho a videomaker Soledad (Gam), um trio de amigos-brothers procurando cannabis, e os Ãndios implicados no assassinato paterno. É perto desses últimos, forasteiros no próprio lugar, que Jonas vai encontrar refúgio. Aqui, cada um é estrangeiro a seu modo.
Carregando responsabilidade grande, o filme à s vezes pesa para o lado da caricatura e dá a incômoda impressão de ser turista olhando isso tudo. Falta a desorientação completa e sem saÃda de um O Pântano, da argentina Lucrécia Martel. Ainda assim, ‘Ãrido’ parece um disco voador no novo cinema nacional, e isso é o maior elogio.
Deve ficar melhor assistir pela terceira vez, longe do choque inicial. Não há pausa entre a risada de uma cena, o gosto ruim da seguinte e a alucinação da próxima. A impressão é de ir sendo puxado pelo olho, enquanto o corpo se distende todo. ‘Ãrido’ não é diversão pura, mas um manifesto engraçado, duro e incômodo de maturidade, na cabeça e no cinema – talvez o que o pop seja sempre que cresce.
Jonas encara o tamanho da encrenca em que se meteu na vida.
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