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Sou trash, mas tô na moda

30.04.06

por Fernando Guerra

Sou Feia, Mas Tô na Moda

(Brasil, 2005)

Dir.: Denise Garcia

Princípio Ativo:
Safadeza cult

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Certo dia, vieram alguns amigos aqui em casa, todos eles entre seus 19 e 23 anos, universitários e membros da classe média alta de Belo Horizonte. Estávamos escutando algumas das minhas músicas até que uma das pessoas foi até o computador e começou a baixar mp3 (tsc, tsc, tsc…). Quando percebi, meu computador estava lotado de nomes como Deise da Injeção e Tati Quebra-Barraco. Esqueci de mencionar que eu odeio funk. Por isso estranhei e perguntei pro povo: “Credo! Cês realmente gostam disso?†E, enquanto todos balançaram a cabeça afirmativamente, meu amigo Ortega (também conhecido como editor do Pílula) me respondeu: “Isso é cult demais pra mimâ€. Eu não tinha entendido até ver esse filme.

“Sou Feia, Mas Tô Na Moda†conta a trajetória do estilo “funkãoâ€, desde seu surgimento em estúdios improvisados em barracos da favela até o seu sucesso em países de primeiro mundo. A narração do filme é encabeçada por Deise da Injeção (“correspondente†do estilo na favela) e o DJ Marlboro (“correspondente†do estilo na Europa). Esse é o grande ponto positivo do documentário, pois apresenta o funk como sub-produto da equação computadores baratos + axé-sacana, som que os funkeiros e funkeiras cresceram ouvindo.

Infelizmente o documentário escorrega em alguns pontos como tentar justificar as letras pra lá de sacanas. Ao querer elevar o conteúdo das músicas a um discurso feminista, o filme apela para a ingenuidade de quem não enxerga que sexo é lucrativo. Por outro lado, outras questões passam batidas. Nada explica a receptividade do estilo, ainda que sob controvérsia, por esse nicho da classe média/alta. Por que o funk se tornou cult e não o axé, se os conteúdos são similares? A aceitação no exterior é pré-requisito para se alcançar esse status? Também não dá pra entender o estrito número de DJs (não nascidos na favela) que estouram no exterior, enquanto a situação dos autores das músicas permanece a mesma.

“Sou Feia, Mas Tô Na Moda†tenta mostrar o funk como a voz da favela que alcança seu espaço nas outras classes, mas o conteúdo que toca lá fora, no Sonar ou onde quer que seja, é sempre a sacanagem, o que realmente mais combina com as dancinhas. Mas talvez não seja necessário explicar tudo, afinal o filme só deve ser exibido em espaços freqüentados pelo mesmo público que já aceitou o estilo. Ou talvez o problema todo é que a coisa é cult demais pra mim.

Tá achando o quê? O feia é só no título.

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