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Por trás da superfície

24.03.06

por Daniel Oliveira

O plano perfeito

(Inside man, EUA, 2006)

Dir.: Spike Lee
Elenco: Clive Owen, Denzel Washington, Jodie Foster, Chiwetel Ejiofor, Christopher Plummer, Willem Dafoe

Princípio Ativo:
it’s all about the money

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Spike Lee está tentando tirar os EUA do coma pós-11 de setembro. Parece clichê, mas é verdade. Ele foi o primeiro a encarar a tragédia de frente em um filme, com “A última hora†– muito bom, mas hermético e amargo demais para o público. Agora, ele atira com esse “O plano perfeitoâ€, que é tudo, menos um filme de roubo convencional.

Ele até começa como um, com planos em edição rápida, vários ângulos diferentes do banco a ser roubado e do furgão dos assaltantes. Enquanto isso, eu pensava: “Será que Lee realmente vai fazer isso?â€. Graças a Brando, eu estava enganado.

A história do roubo arquitetado por Dalton Russel ( Clive Owen), que o detetive Frazier (Denzel Washington) tenta impedir, passa longe das perseguições de carro, bombas mirabolantes ou reviravoltas baratas. Ela serve para o bom ritmo na direção de diálogos de Lee, que enche a tela de palavrões, um traço seu. E também para que o cineasta construa várias metáforas dos EUA hoje.

Metáforas sobre terrorismo e preconceito – o fato dos reféns se vestirem como os assaltantes, confundindo a polícia e o público. O “homem interno†do título original é um perigo que vem de dentro: um “típico americano†que planeja o crime, enquanto árabes, judeus, orientais e negros desfilam na tela. Metáforas de retaliação – ao final, as próprias vítimas são hostilizadas pela polícia, sem sinal dos bandidos. Metáforas de política – os policiais interpretados por Washington e Willem Dafoe não se entendem para trabalhar conjuntamente.

“O plano perfeito†ainda tem cenas engraçadas, com diálogos totalmente non sense, a la Tarantino. E conta com um elenco afiadíssimo, com destaque para Jodie Foster, perfeita como uma filha da mãe manipulando interesses escusos no roubo – outra virtuose do roteiro, sua personagem não se chama Madeleine White por acaso. O longa só escorrega no fim, que podia acontecer 10 minutos antes do roteiro redimir seus protagonistas e dar um desnecessário final clichê a Frazier.

Se os norte-americanos vão engolir a pílula vermelha ou a azul é difícil prever. Spike Lee usa uma fórmulas para fazê-los enxergar além do óbvio. Um policial diz ao detetive Frazier que prefere ser “um velho intolerante que um jovem mortoâ€, com relação ao preconceito contra negros, árabes, latinos...Para Lee, enquanto os EUA agir assim, ele somente vai tocar na superfície do problema: não vai entender as reais razões do terrorismo, nem descobrir os interesses (econômicos) que movem árabes e a guerra liderada por Bush e será vítima do próprio medo e da ignorância. Tudo isso com um mero filme de roubo.

“Pois é, Denzel, vencedores do Oscar não usam essas gravatas ridículas...â€

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