Spielberg a caminho
04.03.06
por Rodrigo Campanella
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Munique
(Munich – EUA/2005)
Dir.: Steven Spielberg
Elenco: Eric Bana, Daniel Craig, Mathieu Kassovitz, Hanns Zischler, Geofrrey Rush
Princípio Ativo: pipoca al dente
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A primeira vez que Spielberg atingiu a maturidade cinematográfica foi recente, num longa simpático e simples chamado ‘Prenda-me se for Capaz’. Sem milhares de planos abertos para mostrar efeitos especiais e dúzias de viradas de roteiro planejadas para aumentar as vendas de lenços de papel, ‘Prenda-me..’ é uma lição de bom uso de recursos – de atores a som. O resultado entrega honestamente o principal produto da franquia Spielberg: entretenimento em tela grande.
O melô exagerado e a habilidade em cativar o público pelas personagens estão em todos os filmes do diretor. Mas Amistad, O Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler deram um novo tÃtulo a Spielberg: o de ‘artista sério e engajado’. É até possÃvel imaginar rodinhas de intelectuais aceitando o antigo execrado diretor para um papo. Munique pertence a esse grupo de filmes – e comparado com os outros da pequena lista, que grande salto adiante ele é.
Diante da história – recriada em livro - do grupo secreto israelense encarregado de assassinar os mentores do Massacre de Munique em 72 (quando 11 atletas israelenses foram mortos por terroristas árabes), Spielberg parece ter tomado para si a difÃcil tarefa de amadurecer - como artista. Sua direção de atores, que só vinha melhorando, atinge grau máximo ao criar atrito com a ferida do sempre aberto conflito árabe-palestino, especialmente em Avner e Ephraim (Bana e Rush, respectivamente). A elegância nos enquadramentos faz par perfeito para a tensão do grupo israelense frente a cada assassinato, demonstrada em luz e som.
Mas Spielberg parece ter escavado tanto que enfim se deparou com uma rocha. Com todas suas variadas qualidades, ‘Munique’ deixa claro o limite de um filme de entretenimento para tratar de questões mais complexas. A corda é esticada ao extremo, mas é difÃcil acreditar que dois dias depois alguém ainda pense seriamente no conflito do Oriente Médio por conta do filme. Há uma grande chance de que a mão na consciência desça para o refrigerante ao fim da sessão e continue por lá.
Não há uma ‘razão’ para isso, mas pode-se especular um pouco. Do lado de Spielberg, parece ainda haver enorme dificuldade em dirigir momentos de densidade dramática, diluindo o texto interessante de Erich Roth e Tony Kuschner (Angels in América). Por outro lado, o jeito hollywoodiano de transformar História em almanaque (saiba como funcionava cada bomba!) e de escapar do maniqueÃsmo ‘bom’ e ‘mau’ transformando todos em mocinhos.
Ãrabes e israelenses assassinos recebem tratamento (variado) de heróis em ‘Munique’. Cada um tem sua ‘causa’ e ninguém discute a morte em si. Mas fica a garantia de um filme-espetáculo que impressiona.
Kassovitz e Bana procuram, sem sucesso, a paz de Spielberg
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