Leve as crianças
20.01.06
por Rodrigo Campanella
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As Loucuras de Dick e Jane
(Fun with Dick and Jane – EUA/2005)
Dir.: Dean Parisot
Elenco: Jim Carrey, Tea Leoni, Richard Jenkins, Alec Baldwin
Princípio Ativo: gravuras com legendas
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O melhor conselho para qualquer pessoa com mais de 15 anos que quiser se aventurar em "As Loucuras de Dick e Jane" é: não deixe as crianças em casa. Filhos, sobrinhos, irmãozinhos da namorada – ofereça um saco de pipoca e um refrigerante médio e garanta a companhia do pirralho. Se a censura não permitir a entrada do pequeno, boa sorte.
Indo para a sinopse: Dick e Jane são um casal de classe média alta. Dick é promovido em sua empresa só para vê-la falir instantes depois. Com dÃvidas e sem dinheiro, os dois tentam arrumar dinheiro, mas a opção viável acaba sendo o mundo dos assaltos.
Ao contrário do que acontece em desenhos Disney legendados e em Batman Begins, não será o pimpolho que cutucará o pai e a mãe para perguntar/comentar algo. Provavelmente, é a multidão de adultos que se abaixará na cadeira logo nos primeiros dez minutos para fazer perguntas pertinentes aos pequenos.
Talvez só eles possam mesmo explicar como Jim Carrey consegue, de novo, afundar um filme praticamente sozinho usando o próprio umbigo como centro de gravidade. Em várias cenas, Carrey é tão apelativo que consegue a proeza de se descolar do resto do elenco e do ritmo do filme, entrando numa ‘sÃndrome do Máskara’ que parece não ter fim. Umbigo um, filme zero.
Provavelmente também só as crianças conseguirão uma explicação convincente para o fato de tornar tão infantil um filme que fala, vejam só, da infantilização do ambiente corporativo ‘made in US’. Ao invés de tocar na ferida e expor o humor negro da situação, o roteiro opta pelo não-arriscado e abusa das piadinhas sobre o cotidiano americano para prender o espectador. A corrida dos executivos para a entrevista e a seqüência da fronteira com o México são gratas exceções. Umbigo dois, filme zero.
Melhor ainda, as crianças poderão muito bem explicar que tipo de relação homem/mulher aparece na tela. Dick e Jane parecem ilhados numa guerra (às vezes divertida) de menino x menina, coisa de 10 anos de idade. Mas o único objetivo da guerrinha parece ser decidir quem vai ficar por cima, fato sem utilidade aqui, já que sexo e sacanagem são cartas fora do baralho.
Infelizmente, nem as crianças poderão responder porque um filme tão eficiente dentro de cada uma das seqüências precisa de uma trilha sonora berrando cada hora de pulsar a adrenalina. E nem conseguirão explicar porque uma direção de arte tão precisa, que consegue armar um palco quase perfeito para uma comédia, acaba passando desapercebida no meio de tantos atropelos de ritmo e atuação. Com tantas coisas gritando pela atenção do espectador, a resposta talvez seja simples: umbigos dez, filme zero.
Quem sabe se a gente ficar parado não chega um Brilho Eterno 2...
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