Dois reis
17.12.05
por Rodrigo Campanella
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King Kong
(King Kong – Nova Zelândia/EUA - 2005)
Dir.: Peter Jackson
Elenco: Naomi Watts , Adrien Brody, Jack Black, Andy Serkis, Jamie Bell
Princípio Ativo: TORE KONG
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Se o cinema pode ser comparado a uma imensa estação de embarque, com direito a variados trens e destinos, Peter Jackson é atualmente o responsável por um setor inteiro do lugar. Falar de mundos fantásticos e personagens mÃticos hoje em dia sem citar o diretor da trilogia dos anéis seria difÃcil. A linha Jackson oferece viagens entre o absurdo e o mágico, em veÃculos arrojados e sempre-reluzentes. Ainda que haja falhas na lataria e o conforto interno nem sempre seja lá essas coisas, vale a pena.
A passagem da vez leva o nome King Kong estampado em letras garrafais. Nem poderia ser diferente: Jackson cansou de falar que o projeto era na verdade seu sonho de cinéfilo de ver o filme preferido repaginado. A atualização não apenas revigora detalhes técnicos, mas eleva tudo ao colossal: cenários, cores, monstros e as próprias três horas de filme.
A vontade de ser grande está diretamente ligada ao fato de que refilmar Kong, nesse caso, é muito mais homenagear o filme original que substituÃ-lo. Não à toa, são recriadas duas cenas com dinossauros que haviam sido cortadas da versão de 33 por incapacidade dos efeitos da época – uma delas (a corrida com dinos) a mais dispensável do filme. Mas não só Kong é homenageado. O diretor parece fazer de seu filme uma ode à maior parte dos filmes B de ficção desde o aparecimento do macacão nas telonas. Estão lá os vermes malditos (com citação a Alien), as aranhas gigantes, os dinossauros, os nativos selvagens/zumbis assassinos e toda espécie de bichinho peçonhento (alienÃgena?) que se imagine.
Nem sempre as duas homenagens convivem tão bem, e a segunda à s vezes ofusca a estrela principal do show. Além disso, é quase sacrilégio dizer, a vontade de Jackson de dar veracidade à história vai além do limite. Fica armada uma briga gratuita entre os vagões da Classe A da ‘arte’ e a Classe B do popular quando Jackson exibe na tela sua atenção exagerada com cada aspecto mÃnimo da produção, como se Kong precisasse de um certificado cultural para ser considerado ‘bom filme’. O cansaço da viagem vem daÃ. Ecos ainda das crÃticas aos Anéis, talvez.
Mas não se confunda esse exagero com a bela construção do drama no filme, essencial para o que ele tem de melhor: o espetáculo. É quando o freio de mão é solto e o colossal corre livre pelos trilhos que a força de Kong se liberta. O elenco atuando com excelência, o horizonte dourado do Empire State, o barroquismo da ilha, a performance de Kong, a NY dos anos 30 recriada em digital. A cada encontro entre o drama costurado e a potência visual e emocional sem pudores, a viagem chega a um grande destino, uma vez e mais outra.
E nem usaram todos os meus dotes artÃsticos! Canalhas!
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