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Dogma – onde usar. Parte 1

16.12.05

por Rodrigo Campanella

Brothers

(Brødre – Dinamarca/2004)

Dir.: Susanne Bier
Elenco: Connie Nielsen, Ulrich Thomsen, Nikolaj Lie Kaas

Princípio Ativo:
dogma pills

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Um movimento Dogma 95 serve para:

1) Restaurar um cinema cheio de vida em meio a um mercado de ilusionismos baratos
2) Marketing de diretores, apesar do voto franciscano de não creditar os próprios no filme
3) Trazer uma nova forma de pensar a feitura do filme, da luz às câmeras, até mesmo para a mundana Hollywood

Possivelmente, Vinterberg (Querida Wendy) e Von Trier (Manderlay), autores do documento inicial do Dogma, responderiam a pergunta provocando: serve para as três alternativas. E talvez para uma quarta. Os moldes do Dogma podem essencialmente salvar um filme de uma praga complicada: a questão do gênero.

Essa questão já apareceu recentemente no Pílula. E é preciso dizer: gênero em si não é um demônio de quatro cabeças. George Romero faz filmes de terror. Hitchcock fazia, em grande parte, filmes ‘de suspense’. Mas quem conhece cada um sabe que, por trás da classificação simples, há dezenas de camadas em seus filmes. Sutilezas, críticas. O mal do gênero é soterrar o filme. E agora podemos voltar à nossa programação normal: Brothers.

‘Brothers’ é o título porque outro filme, francês, já havia abocanhado recentemente a alcunha de ‘Irmãos’. Mesmo assim, a americanização soa desconfortável. E o desconforto inicial se estende para a difícil convivência da película com o gênero.

Temos Michael, o irmão bom e militar, e Jannik, o encrenqueiro ovelha negra. No início, o primeiro busca o segundo na saída de uma estadia na prisão. Logo, Michael desaparecerá numa missão no Afeganistão. Jannik acaba assumindo o papel de protetor da família do irmão, inclusive ao lado de Sarah, a cunhada.

Duas coisas despontam na sinopse posta em ação: a seqüência de eventos é inverossímil em excesso. Basta haver uma possibilidade de equilíbrio na trama que uma guinada rápida (forçada) do roteiro muda todo o jogo de forças. Há a impressão de uma mão pesada escrevendo em cima da tela em movimento. A própria guinada de Michael não apresenta estofo suficiente. Ainda assim, o trio principal de atores é excelente: basta esquecer os rumos estranhos do roteiro.

E o gênero, em si. Ao relacionar Jannik e Sarah, a direção impõe uma comédia romântica chata e forçada. Mesmo todo o momento de Michael no Afeganistão existe em função disso. Mas aqui o gênero não é provocado ou desafiado. Ele permanece em seu lugar canonizado e pobre, enquanto todo o resto gira, diferente e em segundo plano, em volta. E é para isso que talvez Bier, já certificada pelo Dogma., devesse voltar aos cânones do movimento: ninguém precisa aguentar uma hora e meia de gênero forçado só para poder assistir duas ou três grandes cenas.

Irmão mauzão, irmão bacaninha: mais explícito só se desenhar.

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