Albergue Espanhol 2
11.04.06
por Gabriel Banaggia
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Bonecas russas
(Les poupées russes, França/Inglaterra, 2005)
Dir.: Cédric Klapish
Elenco: Romain Duris, Kelly Reilly, Audrey Tautou, Kevin Bishop, Cécile De France
Princípio Ativo: Pós-modernidade
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Que pese desde já a crÃtica ao final água-com-açúcar: ainda assim, “Bonecas Russas†é um ótimo filme. Como toda boa história que pretende falar ao menos um pouco da condição pós-moderna, seu inÃcio é não-linear: um grupo de amigos que se conheceu na Espanha se reencontra após cinco anos para o casamento de um deles. Mas a história é dessa vez menos sobre o grupo de amigos do que sobre o que se passou com um deles, Xavier (interpretado pelo sempre ótimo Romain Duris), no meio tempo.
Continuação direta de “Albergue Espanholâ€, neste filme o foco no protagonista é mais marcado do que no anterior, apesar de haver espaço para que outros atores também brilhem, como Audrey Tautou (inesquecÃvel no papel tÃtulo de “O fabuloso destino de Amélie Poulainâ€) que encarna novamente Martine, o antigo amor de Xavier.
De mais importância que a história em si, que conta as desventuras do personagem de Duris em sua carreira como escritor, é a forma através da qual o diretor Cédric Klapish as conta. De modo análogo a “Albergue Espanholâ€, a narrativa é múltipla, entrecortada de momentos dentro de momentos, quadros dentro de quadros. Já a própria seqüência de abertura do filme, na qual os créditos rolam diante de fragmentos de cenas e ao som de música dodecafônica, é altamente representativa da estratégia do diretor.
A fragmentação do som é um dos pontos mais fortes do filme. Não só na música como também a da própria voz: as inúmeras lÃnguas faladas ao longo da história carregam a idéia mesma da multiplicidade de pontos de vista, e as cenas em que a comunicação precisa ser feita mesmo em face da barreira lingüÃstica são preciosas. Outro aspecto que enriquece a pelÃcula é o uso do som estéreo de forma magistral: em certos trechos muitos espectadores chegaram a virar a cabeça para os lados, procurando a origem do som que parecia vir de fora do universo do filme, como na cena em que Xavier se desdobra em muitos, tipificando o artista que precisa encontrar a melhor forma possÃvel de seguir em frente.
A própria metáfora que dá nome ao filme, através da qual Xavier se pergunta qual será a última mulher de sua vida, pode ser ampliada para se compreender a obra como um todo. Afinal, o escritor se questiona sobre o trabalho ideal, os amigos que permanecerão e, mesmo, quem ele próprio é de fato. Se “Albergue Espanhol†era uma jornada em busca da descoberta da identidade, “Bonecas Russas†dá a lição que falta, relevando o aparente happy ending: você é tantos quantos se pergunta ser. Dentro de cada boneca que se abre haverá sempre uma nova: a busca deve ser pela hora certa de procurar uma mais adequada, e não pela última, que na verdade não existe.
“Mesmo na rua de proporções ideais, me pergunto: onde bate o sol da manhã?â€
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