Gente inocente
31.08.05
por Daniel Oliveira
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Vozes inocentes
(Voces inocentes, México / EUA / Porto Rico, 2004)
Dir.: Luis Mandoki
Elenco: Carlos Padilla, Leonor Varella, Xuna Primus, Gustavo Muñoz, José MarÃa Yazpik, Ofelia Medina
Princípio Ativo: Maldades reais com criancinhas
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Algumas pessoas provavelmente vão querer me matar pelo que vou falar agora, mas é verdade: Carlos Padilla, protagonista de “Vozes inocentesâ€, não é um bom ator. O pequeno Chava é o tÃpico extrovertido, hiper-ativo e que encanta todos a sua volta. É impossÃvel não se divertir na cena em que ele faz uma serenata para sua namoradinha, a também encantadora Cristina Maria (Xuna Primus).
Dito isso, “Vozes inocentes†é um filme bom e contundente. Dirigido por Luis Mandoki (do péssimo “Olhar de anjoâ€), ele se baseia na história real de Oscar Orlando Torres, que co-roteiriza o longa ao lado do diretor. Torres era uma criança quando estourou a guerra civil em El Salvador e assistiu a grande parte do conflito – que aconteceu em meio à favela e seus habitantes - antes de ir para os EUA, onde escreveu sobre suas experiências.
Ele é ficcionalizado em Chava, que tem 11 anos quando vê o pai abandonar a famÃlia e ir para os EUA. Segundo sua mãe, Kella (Leonor Varella), agora ele é o “homem da casa†e deve ajudá-la com os dois irmãos menores. Acontece que, quando completar 12 anos, Chava terá que abandoná-los, já que é essa a idade em que o exército recruta “soldados†para o conflito.
Mandoki abusa do melodrama em certas cenas e o pequeno Carlos Padilla franzindo a testa, para demonstrar tudo quanto é sentimento, não ajuda muito. Mas o filme se constrói na interação de Chava e sua famÃlia - convincente graças, em grande parte, à ótima Leonor Varella. As cenas em que a famÃlia se diverte e, de repente, é assustadoramente surpreendida pelas bombas e tiros pegam o espectador de jeito.
Contribuem para isso design e edição de som - méritos, respectivamente, de MartÃn Hernández e Alejandro Quevedo, ambos de “Cidade de Deusâ€. “Vozes inocentes†mostra o terror da guerra sob a perspectiva do universo infantil e como essa interrupção / aceleração do crescimento afeta uma criança. Chava aprende da pior maneira a noção de perda - a cena em que ele toma consciência do momento em que alguém decide pegar uma arma e matar é forte e silenciosa, demorando o tempo certo para se enxergar tudo o que se passa na mente do protagonista.
A narrativa em off de Chava pode parecer sob medida para fazer chorar, mas os exageros são perdoados, tendo em vista a tragédia retratada. Não sei sobre vocês, mas sempre me deixa mal ver criancinhas sofrendo. A fala do protagonista que encerra o longa deixa bem clara a intenção do diretor e de Oscar Torres ao contar essa história. Para nós, brasileiros, só fica o nó na garganta e a tristeza de saber que isso acontece todos os dias e, possivelmente, ao lado de nossas casas.
Carlos Padilla: o irritantemente fofo Chava
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