Crônica de uma tragédia anunciada
07.09.10
por MaÃra Bueno
|
Cabeça a prêmio
(Brasil, 2009)
Dir.: Marco Ricca
Elenco: Alice Braga, Ana Braga, Cássio Gabus Mendes, Daniel Handler, Eduardo Moscovis, Fulvio Stefanini, Otávio Muller, Via Negromonte
Princípio Ativo: inércia árida
|
|
receite essa matéria para um amigo
É na fronteira entre Mato Grosso do Sul, Paraguai e BolÃvia que Marco Ricca decidiu estrear como diretor, com um filme que retrata o desmoronamento de relações humanas intrinsecamente ligadas e subordinadas ao poder.
A trama do filme, baseado no romance de Marçal Aquino, envolve uma extensa e variada gama de personagens. Os irmãos Menezes, Mirão (Fulvio Stefanini) e AbÃlio (Otávio Muller), pecuaristas de fachada, comandam o tráfico da região. Um de seus empregados é Denis (Daniel Hendler), que transporta a droga de avião e se envolve com a filha de Mirão, Elaine (Alice Braga). Diante de uma gravidez inesperada, o casal foge do pai ciumento da moça. Os capangas Albano (Cássio Gabus Mendes) e Brito (Eduardo Moscovis) são então escalados para ir atrás do casal.
Mesmo que o roteiro permita que Ricca trabalhe as personagens e seus universos de maneira clara, sem confundir o espectador, a quantidade de personagens e subtramas é prejudicial ao desenvolvimento do filme. Há uma outra situação central, envolvendo Brito e a ex-prostituta Marlene (Via Negromonte), dona do bar da cidade. Os dois vivem uma relação problemática, em que a dificuldade de aceitar a si mesmo e ao outro é o que conduz o affair. O casal é extremamente promissor na primeira metade de projeção – mas não chega a engatar. Brito, Marlene e sua louca e obsessiva história de amor são engolidos pelo drama que cerca a famÃlia Menezes.
Ricca está à vontade com seu elenco. Fulvio Stefanini agiganta Mirão, sem no entanto se impor, e os demais personagens orbitam em torno dele com a naturalidade exigida pela trama. A personagem de Ana Braga, esposa de Mirão, ganha força em sua solidão e desespero. Destaque também para Eduardo Moscovis, que dá a Brito frieza e paixão.
Aliás, “Cabeça a prêmio†é um filme quase frio, o que fica claro na opção de Ricca por grandes enquadramentos. É uma aposta que transmite com precisão a aridez com que os personagens têm que conviver. Como nos lembra o personagem de Cássio Gabus Mendes, “a gente é bom, só que está do lado erradoâ€. Talvez seja esta a frase chave para entender o universo do filme.
Em “Cabeça a prêmioâ€, todas as situações caminham em marcha lenta para a tragédia - e aquele que está com a arma na mão é quem decide o final.
Mais pÃlulas:
- Feliz natal
- Ãrido Movie
- A festa da menina morta
- Navegue por todas as crÃticas do PÃlula
Elaine, Mirão e relações bem mais complexas do que os olhos deixam ver...
» leia/escreva comentários (0)
|