Curtindo a vida adoidado
16.07.10
por Daniel Oliveira
|
Encontro explosivo
(Knight and day, EUA, 2010)
Dir.: James Mangold
Elenco: Tom Cruise, Cameron Diaz, Peter Sarsgaard, Paul Dano, Viola Davis, Jordi Mollà , Marc Blucas, Maggie Grace
Princípio Ativo: as loucuras de Cruise
|
|
receite essa matéria para um amigo
Os diálogos de “Encontro explosivo†não têm um pingo de originalidade, as cenas de ação não são nada demais e a trama é uma coleção de situações que afronta o absurdo.
Mas o verdadeiro problema do filme é Tom Cruise e Cameron Diaz repetindo papéis nos quais ninguém mais consegue levá-los a sério. Ele é Fodão, o agente da CIA mais foda que todos os outros, acusado de traição. Para proteger um macguffin genérico (Zefir, blablablá), ele vai precisar da ajuda de Mais-burra-do-que-parece, uma loira histérica porém charmosa e engraçada (adivinhe quem?).
Atirando em todos ao seu redor, saltando de motos, explodindo carros e aterrissando aviões, Fodão é tão insano quanto... Tom Cruise. As justificativas e explicações que ele dá para Mais-burra-do-que-parece, sempre acompanhadas do sorriso mezzo-psicótico do astro, soam como uma tentativa de convencer o público de que todas suas bizarrices dos últimos anos têm um sentido. “Eu estou sempre certo. Sei o que estou fazendo. Por mais manÃaco e sociopata que eu possa parecer, no final o resto do mundo estará errado e eu continuarei sendo o cara mais fodão do universoâ€, ele diz.
E é impossÃvel criar qualquer empatia com esse personagem – dentro e fora das telas. O filme de James Mangold deveria ser uma homenagem aos grandes thrillers de aventura dirigidos por Hitchcock – em especial “Intriga internacionalâ€, referenciado diretamente na cena da aterrissagem do avião. Mas para isso, Fodão deveria ser Zé, o sujeito comum injustiçado que deve se superar e lutar contra o sistema para provar sua inocência. Isso, sim, gera identificação. E Mais-burra-do-que-parece seria Espertinha: loira, de lÃngua afiada e bem mais inteligente que o próprio Zé.
Com dois protagonistas tão sem sal, “Encontro explosivo†podia fazer uso de coadjuvantes interessantes. Não é o caso. O vilão de Peter Sarsgaard profere a minha pior-frase-do-ano favorita (“Porque está cheio de...poder!â€). O fato de Cruise ridicularizar o gênio nerd vivido por Paul Dano (que gosta de Hall & Oates porque... nerds adoram Hall & Oates) dá margem a interpretações nada simpáticas. E Viola Davis só recebe o salário que merecia ter ganhado por “Dúvidaâ€.
Some isso tudo a um texto fraco. A saÃda de drogar a mocinha e cortar para um fade toda vez que a situação parece insolucionável – dando a entender que Fodão resolveu tudo simplesmente sendo... fodão – é uma das maiores picaretagens de roteiro dos últimos tempos. E para aqueles que compraram todas as reviravoltas esburacadas da trama, o filme ainda oferece um desrespeito ao cérebro do espectador em forma de final.
O diagnóstico do longa pode ser irreversÃvel, mas o de Cruise, não. Parece que o astro sofre de uma sÃndrome de “queria ser Bond, mas não deixaram†que só vai ser curada com... um filme do 007. Deixem o cara fazer um. Quem sabe ele não volta ao normal?
Mais pÃlulas:
- Agente 86
- Sentinela
- Trama internacional
- Navegue por todas as crÃticas do PÃlula
Cameron Diaz não gostou dos despachos cientólogos de Cruise no set de gravação.
» leia/escreva comentários (1)
|