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Viajar é preciso. Viver...

27.06.10

por Daniel Oliveira

Viajo porque preciso, volto porque te amo

(Brasil, 2009)

Dir.: Karim Aïnouz e Marcelo Gomes
Elenco: Irandhir Santos

Princípio Ativo:
topografias geográfico-emocionais

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Viajar é não estar.
Outro dia, uma grande amiga conterrânea se irritou comigo. “Você não tem raízes! Isso é horrível...â€, ela disse, indignada, sobre minha facilidade em me apaixonar por lugares estranhos e a total ausência de remorso em abandonar aqueles onde passei a maior parte da vida. Viajar é estar em movimento. É não parar. É buscar o novo sempre. E vivê-lo intensamente. Ao mesmo tempo em que é um não viver. Quem tem algo muito forte a que se prender, uma definição muito concretizada do que é e a onde pertence, tem uma vida. Quem não tem viaja. O protagonista de “Viajo porque preciso, volto porque te amo†pensava que seu caso é o primeiro. Mas está viajando.

Viajar é fugir.
Em Bonito, conheci pessoas que foram meus melhores amigos por uma semana. Situações e laços que, no momento, pareciam mais intensos que as amizades mais cotidianas. Tudo o que queria ao viajar era afirmar para mim mesmo que não era quem eu vinha sendo. Que não tinha me desapontado tanto. E encontrei personagens que me possibilitaram ser um novo protagonista para minha vida. Beber cerveja era novo. Minhas opiniões eram novas. Sonhar era novo. Planejar era novo. E possível. E eu não era cansativo. Não era. Simplesmente estava.

Viajar é ficcionalizar.
Em Punta del Este, éramos ricos. Ou fingíamos ser. Em meio aos carros universalmente importados, hotéis de luxo e cassinos que cheiravam a uísque e a kitsch, não tínhamos alternativa a não ser assumir personagens coerentes ao cenário. Comíamos bem, bebíamos socialmente, pagávamos em dólar. Falávamos mal da moeda local. Absorvíamos Punta del Este e arrotávamos Miami. Cultivávamos um corpo dourado e vivíamos como se a existência fosse um constante e ininterrupto show do Amaury Jr. Muito mais divertido que a realidade.

Viajar é documentar.
Na Nova Zelândia, me apaixonei. Por cada esquina, cada detalhe, cada lixo recolhido adequadamente, cada grama bem aparada. Por viver em um subúrbio classe-média com cachorra e pelo transporte público decente melhor que os carros. Pelas montanhas cobertas de neve da ilha sul que ficavam ao lado das praias. Pela civilização, simpatia e educação. Queria registrar cada mosca, todos os momentos, todas as ruas, viver na foto. Viver em um mundo de 3 mil fotos. Convencer-me de que eu pertencia àquele mundo e não ao que me foi dado. Meu? Na Nova Zelândia, descobri que viajo porque amo, volto porque preciso. E até encontrar, como o protagonista, um lugar que desacelere o coração e aonde faça sentido retornar, não preciso. Raízes são para quem não consegue se reinventar.

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Anda, anda, anda...

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