A jornada da heróina (ou do LSD, ou...)
26.04.10
por Igor Vieira
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Alice no paÃs das maravilhas
(Alice in Wonderland, EUA, 2010)
Dir.: Tim Burton
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Crispin Glover, Stephen Fry, Michael Sheen, Alan Rickman
Princípio Ativo: Alice Skywalker
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Meu primeiro contato com “Alice†foi a minissérie exibida pela Globo no final dos anos 80. O musical, com Ringo Starr no elenco, trouxe aquela que pra mim ainda é a melhor representação da personagem de Lewis Carroll: a pequena Natalie Gregory. O mundo fantástico de Carroll continuou a me seduzir e conheci outras adaptações, como o clássico Disney e a obra original.
Não poderia, então, ficar indiferente ao anúncio de que Tim Burton estaria a frente de uma nova adaptação dos livros Alice no Pais das Maravilhas e Alice através do Espelho para o cinema em 3D. O diretor parecia ideal para a tarefa, afinal que outro autor conseguiria elevar à máxima potência o universo surrealista da obra?
E Burton responde a essas expectativas, criando um PaÃs das Maravilhas ao mesmo tempo cheio de cor e sombrio. Ele capricha na cenografia e efeitos visuais, mas destaca-se mesmo pela fotografia, especialmente bela nas cenas noturnas, e pelos vestidinhos ultramodernosos de Alice. Apesar disso, o hipervisual não funciona tão bem na versão 3D. Alguns efeitos e os objetos desfocados em primeiro plano demonstram ainda um amadorismo na técnica.
A nova adaptação mantém a profundidade e simbolismo de Carroll, ao tratar temas como a loucura, as convenções sociais, a lógica e a entrada na vida adulta. Os famosos diálogos e as brincadeiras linguÃsticas também estão lá, mas na versão de Burton Alice não é mais uma criança. Do alto de seus 19 anos, a moça, prestes a se casar, ainda demonstra dificuldade em compreender e aceitar as regras e os bons costumes da sociedade inglesa do fim do século XIX.
A personagem, apesar da estranheza inicial, se encaixa muito mais no universo onÃrico de Wonderland do que no “mundo real†– algumas vezes mais improvável e insano – o que leva a pensar em Alice como um alterego do cineasta. Mas a roteirista Linda Woolverton não desenvolve sua premissa de forma muito original, apoiando seu script na jornada do herói de Joseph Campbell, que já era batida quando foi usada por George Lucas em “Star Warsâ€.
Por mais que a parceria de Burton com Johnny Depp e sua esposa Helena Bonham Carter seja menos original ainda, as atuações são o melhor do filme - exceto pela apática Alice de Mia Wasikowska. Como fez em Edward Mãos de Tesoura, Depp revela emoções mesmo por baixo da maquiagem e do figurino extravagante do Chapeleiro. E Bonham Carter é deliciosa como a Rainha Vermelha (a Rainha de Copas do original). Completando o rol, Anne Hathaway surpreende e diverte com o falso afetamento de sua Rainha Branca.
Fica claro que “Alice...†não é a obra-prima de Tim Burton. Mas clara também é a percepção de que, mesmo quando não é genial, Burton continua sendo Burton.
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Alice, Alice... a curiosidade matou a gat(inh)a.
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