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Desejo e reparação

23.04.10

por Daniel Oliveira

Pecado da carne

(Einaym Pkuhot, Israel/Alemanha/França, 2009)

Dir.: Haim Tabakman
Elenco: Zohar Strauss, Ran Danker, Tinkerbell, Tzahi Grad, Isaac Sharry, Avi Grainik, Eva Zrihen-Attali

Princípio Ativo:
o amor e a hipocrisia

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É paradoxal (e um tanto hipócrita) que as religiões preguem que nos amemos uns aos outros incondicionalmente – independente de credo, raça, cor, gênero etc. – ao mesmo tempo em que condenam a homossexualidade. Parece haver uma confusão (promíscua) entre “amor†e “reprodução†que permite aos seus “fiéis†praticar uma moral medieval. Ignorando que amar é sempre melhor que qualquer “guerra santaâ€. E que, quando Cristo (e as outras várias versões de Deus) veio a Terra, ele optou por viver entre os oprimidos e segregados.

Essa prisão moral das Trevas é ainda pior para quem vive em comunidades mais fundamentalistas. É o caso do protagonista de “Pecado da carne†Aaron Fleischmann (Shtrauss), um judeu ortodoxo, casado e pai de quatro filhos. Açougueiro, ele contrata um jovem ajudante, Ezri (Danker), para cuidar do estabelecimento que herdou do pai e se sente inesperadamente atraído por ele.

Aaron vive em um pequeno bairro de Tel Aviv dominado por ortodoxos. Vai à igreja conforme a religião determina e é respeitado pela comunidade. Por isso mesmo, sabe que seus sentimentos nunca serão aceitos por ela. Ainda assim, ele se debate com a mensagem que escuta do rabino nos estudos bíblicos e com seu próprio entendimento da fé: Aaron tem certeza de que o que sente por Ezri é bom, tanto para si mesmo quanto para ele. O judaísmo não condena o amor, nem a luxúria, quando os dois estão ligados. E, se abandonar o casamento é errado, o rabino diz que se afirmar perfeito é desafiar Deus.

Então...?

O diretor estreante Haim Tabakman filma a história como um observador curioso e distanciado. Seus enquadramentos fixos tratam os personagens com respeito, dando a eles seu tempo. No início, Aaron e Ezri estão sempre longe um do outro e a proximidade é sugerida somente pela montagem que parece colocá-los frente a frente. À medida que o filme passa, a conexão entre os dois se torna mais irresistível e o contato físico, inevitável - um choque tanto para eles quanto para o público.

A direção é competente e o elenco idem, mas o roteiro de Merav Doster se contenta em apenas sugerir boas premissas, sem desenvolvê-las. Várias possibilidades, como uma maior exploração da personagem de Rivka, a esposa, além dos reflexos do abandono moral da família por Aaron, são desperdiçadas. Com isso, o filme fica estagnado no meio e há uma sensação de que nada acontece.

O final repentino e amargo reforça essa ideia de um mundo estanque, de que nada realmente mudou. Mas é realista. E é sua brutalidade seca que causa no espectador reflexões como a do primeiro parágrafo e que faz de “Pecados da carne†um pequeno e potente Brokeback de bolso.

Mais pílulas:
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Ezri, Aaron, o desejo, a carne e a vigilância.

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