O tijolo da civilização
23.03.10
por Cedê Silva
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O Livro de Eli
(The Book of Eli, Estados Unidos, 2010)
Dir.: Irmãos Hughes
Elenco: Denzel Washington, Mila Kunis, Gary Oldman, Malcolm McDowell
Princípio Ativo: A Palavra
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(Aviso de spoilers: É impossÃvel resenhar este filme adequadamente sem alguns spoilers. Você foi avisado).
O que você faria se tivesse em mãos a última BÃblia do mundo? Alguns leitores vão sorrir maliciosamente diante da ideia e lembrar de uma frase sobre “o último rei e o último padreâ€. Todos os outros vão curtir O Livro de Eli, um filme de ação pós-apocalÃptico superior a Eu sou a Lenda no enredo e na profundidade, embora inferior em mergulhar o espectador na ação.
Eli (Denzel Washington) é um andarilho numa América devastada por um desastre e uma guerra nunca explicados. Comida e água são itens de luxo, não existem instituições democráticas e há uma cena bonita envolvendo o último xampu do mundo. É como o Haiti, só que muito maior e mais vazio. Caminhando ao lado de Eli nessa vastidão, onde ele mata gatos a flechadas para comer, o espectador descobre sua missão: levar um misterioso livro para o Oeste.
A aventura inclui dois combates corpo-a-corpo contra vários oponentes ao mesmo tempo, mas a viagem é interrompida apenas num lugarejo dominado por um velho chamado Carnegie (Gary Oldman). Lá Eli conhece Solara (Mila “Jackie†Kunis, em atuação passável, mas sua cena de camisola vale o ingresso), uma jovem escrava que, como quase todos nascidos após a guerra, é analfabeta.
Carnegie não se ocupa de ensinar seu povo a ler: em vez disso, manda seus andarilhos em emboscadas para roubar gente e livros. Eles conseguem cópias surradas de O Código da Vinci e revistas de fofoca, mas não um poderoso tomo que, Carnegie imagina, lhe dará o poder de conquistar as gentes de outras cidades. Tomo que, óbvio, está com Eli. E Solara, óbvio, se apaixona por ele e vai ajudá-lo em sua aventura. O que se segue é uma longa e alucinante seqüência de ação, terminando com um interessante twist no clichê do “casal de velhinhos bondosos que moram à beira da estradaâ€.
Quase todo filme pós-apocalÃptico esbarra no epÃlogo. É o caso de Inteligência Artificial e do já-mencionado Eu sou a Lenda. É também o caso de O Livro de Eli, numa discreta cena na qual o objeto-tÃtulo é reduzido a mais um entre seus iguais. A curta e boba tomada multiculturalista não arranca o grande mérito do filme: mostrar que, seja num cenário pós-apocalÃptico ou na atual sociedade de abundância, a BÃblia é o fundamento maior da nossa civilização, e, malgrado os que querem usá-la para manipular pessoas, nenhuma reconstrução é possÃvel sem ela.
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Eli está no meio de nós
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