A primeira boa surpresa de 2010
01.02.10
por Núdia Fusco
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Transference
(Merge Records, 2010)
Top 3: Mistery Zone, Written In Reverse, Goodnight Laura
Princípio Ativo: consistência
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Antes de mais nada, uma confissão (polêmica?): o Spoon nunca esteve entre as minhas bandas favoritas. A não ser por uma ou outra canção mais sonora, minha simpatia pelo quarteto texano costumava ficar restrita a alguns comedidos elogios. Foi com o grudento Ga Ga Ga Ga Ga (2007), no entanto, que isso começou a mudar e o álbum pulou direto para o meu top 10 daquele ano. Melódico, com questões existenciais que não ultrapassam a barreira da chatice, virou uma boa trilha sonora para momentos de diversão (ou nem tanto).
Talvez por isso minha ansiedade com Transference, recém-saÃdo do paraÃso dos downloads (i)legais, não tenha sido descontrolada – afinal, eles já tinham ido longe demais no meu nem tão apurado conceito. Mas, taÃ, o disco foi uma boa surpresa. Começa morninho, com Before Destruction. O unÃssono de vozes dá lugar então a Is Love Forever? e suas guitarras bem marcadas, evoluindo até The Mistery Zone, uma das minhas favoritas.
Written In Reverse, que vem a seguir, também disputa o pódio de música mais cantarolável do disco. É como um interessante discurso, enfeitado com um toque despretensioso que dá ao público uma das melhores faixas do álbum. E aà entra I Saw The Light, claramente diferente. Mais sombria, principalmente na parte instrumental, na qual a percussão, piano e baixo se unem em uma combinação introspectiva e crescente.
Trouble Comes Running chega com ecos de Kings Of Leon que vão ora se dissolvendo, ora se fortalecendo conforme a música vai evoluindo. A bela (e curta!) Goodnight Laura junta-se à Out Go The Lights, que parece fechar um ciclo. A décima faixa, Got Nuffin, com guitarras evocando Joy Division, dão a impressão de que as angústias de Ian Curtis seriam cantadas ali, mas sem a gravidade da voz do inglês.
Transference chega ao final com Nobody Gets Me But You, que tem um quê hipnótico e deixa a certeza de que o Spoon consegue ser pop na medida em que não enjoa, denso sem parecer pretensioso, leve sem parecer alienado. E não dá vontade de parar de escutar.
Decidindo quem vai ser a colherzinha menor.
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