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Ele não sabia. Barreto não mostra.

16.01.10

por Cedê Silva

Lula, o filho do Brasil

(Brasil, 2009)

Dir.: Fábio Barreto
Com: Rui Ricardo Dias, Glória Pires, Milhem Cortaz, Cléo Pires, Juliana Baroni, Sóstenes Vidal, Felipe Falanga

Princípio Ativo:
Nunca antes na história deste País

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Financiado inteiramente com dinheiro privado (de empresas que recebem dinheiro público), “Lula, o Filho do Brasil†é um fracasso. Não por causa do tão falado esforço hagiográfico, mas porque sua pasteurização torna a história muito menos emocionante do que quando contada pelo próprio biografado.

Mesmo reaças safados como eu reconhecem que a primeira metade da vida de Lula foi difícil e, sim, tocante. Mas episódios como a busca de água em açudes de Pernambuco, ou o dia em que o jovem Lula foi acordado no meio da noite por uma inundação, em vez das tomadas sufocantes que merecem, são breves e sem qualquer incômodo para o espectador. No filme, o cachorro dos Silva no Nordeste é um cão de raça esbanjando saúde. Qualquer telejornal de hora do almoço emociona mais.

O elenco é bom. O ator mirim Felipe Falanga faz um ótimo Simba do agreste, desafiando a autoridade de seu Aristides e esperando seu grande destino. Rui Ricardo Dias (O Cara) convence nos discursos, mas uma pena que a voz rouca vai e volta durante o filme. Já Glória Pires está perfeita no papel de Virgem Maria e desenvolve com Lula - este sempre buscando sua aprovação e conforto - uma relação de severas implicações freudianas.

Algumas cenas são uma delícia. Num armazém, o Lula criança transfere alguns itens de uma cesta para aquela que vai levar pra casa, ensinando ao público que aprendeu a roubar desde cedo. Já adolescente, pega emprestado o paletó de um amigo para poder entrar no cinema, ficando entendido que vai entregá-lo depois de alguma forma para que ambos possam curtir o filme. Que nada. Lula fica lá, pasmo com a telona – e eis que o amigo surge magicamente sem sua ajuda. Mais adiante, Lula mancha de propósito o macacão para fingir que trabalhou.

Já na cena mais babaca da história deste país, um PM nervoso adentra um bar e canta empolgado o Pra Frente Brasil, enquanto um colega de farda põe-se a espancar um transeunte por nenhuma razão. Cenas como essa, aliadas ao jornalismo fictício utilizado de background, mostram que como biografia o filme também não presta. Não há sequer a fase do Lula atrás de viúvas, saindo com mulheres de segunda a domingo.

Mostrar a vida do protagonista somente até 1980 é o mesmo truque imperdoável utilizado em “Diários de Motocicletaâ€. Como seria recebido um filme sobre um pintor austríaco chamado Adolf, que um dia foi a uma cervejaria e... FIM?

Por fim, os companheiros precisam saber que as salas do filme não estão tão cheias quanto o esperado. E que só permanece em cartaz por decreto - literalmente.

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“Cutuvelada não, cumpanhêro!â€

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