Uma mente brilhantemente estúpida
17.10.09
por Daniel Oliveira
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O desinformante
(The informant!, EUA, 2009)
Dir.: Steven Soderbergh
Elenco: Matt Damon, Melanie Lynskey, Tom Wilson, Scott Bakula, Tom Papa, Eddie Jemison, Rusty Schwimmer
Princípio Ativo: mentiras de verdade
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Para que “O desinformante†funcione, o espectador deve, a partir de um certo momento, questionar tudo que o protagonista Mark Whitacre (Damon) diz. Não só o que diz, mas o que ele é: totalmente estúpido, ou só meio estúpido; se é um herói incompreendido, ou um mentiroso inconsequente; se tem um coração puro demais, ou se é patologicamente desonesto. E mais ainda: ele deve sair da sessão sem uma resposta definitiva.
Para isso, o diretor Steven Soderbergh - coerentemente – colocou em xeque seu próprio discurso. O discurso do cinema, seu poder de persuasão e “verossimilhançaâ€. Assim, a história (real) de Whitacre, que se assemelha a um thriller polÃtico dos anos 70 - um dos gêneros mais sérios do cinema norte-americano - é reimaginada como uma comédia, que será ela mesma relativizada quando o “baseado em fatos reais†pesar na consciência do público entre uma risada e outra.
E as risadas começarão assim que Whitacre surgir na tela e botar seu plano – se é que ele tem um - em ação. BioquÃmico e vice-presidente da gigante agroindustrial ADM, ele se torna informante do FBI, acusando sua empresa de criação de cartel. Mas ao jogar a merda no ventilador, o protagonista (que se autodenomina Agente 0014, duas vezes mais esperto que 007), a vê voltar direto na sua falta de vergonha na cara multifacetada.
Soderbergh usa a voz em off onipresente para demonstrar a capacidade de Whitacre de fazer malabarismo, sapatear e fazer cálculos ao mesmo tempo. No melhor estilo “Scrubsâ€, o protagonista pensa em borboletas mexicanas e abdominais isométricos enquanto fecha negócios ou recebe instruções do FBI. Matt Damon compreende bem essa mente brilhante e estupidamente maquiavélica do personagem, alternando entre o avoado e o mentiroso compulsivo. Em grande parte, vem daà - e da trilha cartunesca (utilizada demais) de Marvin Hamlisch - o sucesso cômico do filme. Ah, e a esposa de Whitacre é a Rose de “Two and a half menâ€. Isso também ajuda.
A história se passa nos anos 90, mas os planos escuros e o tom apastelado setentistas dominam a paleta de cores. Apesar de tudo, “O desinformante†ainda é um thriller corporativo e a semirrecusa do diretor em admitir disso, abusando da comédia e desafinando um pouco na troca de marcha, faz o terceiro ato demorar a engrenar. Essa indefinição é um tanto desconfortável e, ao se divertir demais com sua própria realização, o cineasta quase torna seu filme (e o riso do espectador) conivente com as lambanças narradas. Mas é exatamente aà que o público toma consciência do poder de manipulação do cinema – e de Mark Whitacre. Missão cumprida, Soderbergh.
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Mesmo gordinho, Matt Damon roubou Rose do Charlie Sheen.
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