A guerra é pop
08.10.09
por Renné França
|
Bastardos inglórios
(Inglorious Basterds, EUA/Alemanha, 2009)
Dir.: Quentin Tarantino
Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth, B. J. Novak, Michael Fassbender, Diane Kruger, Daniel Brühl, Til Schweiger
Princípio Ativo: a guerra, segundo o cinema
|
|
receite essa matéria para um amigo
“Bastardos Inglórios†é o melhor filme de Quentin Tarantino? Não. “Pulp Fiction†permanece a obra-prima suprema. Seria seu filme mais acessÃvel? Nem de longe: a energia e ação de “Kill Bill†continuam imbatÃveis.
Mas talvez esta seja sua produção mais madura, em que o diretor demonstra o maior domÃnio da técnica cinematográfica. Seu cinema de referências continua fortemente influenciado pelos westerns de Sergio Leone (com direito a trilha sonora de Ennio Morricone), mas aqui ganha o reforço de produções italianas e francesas dos anos 40. Em seu primeiro filme de época, o ritmo é mais pausado, as imagens têm seu próprio tempo e há um claro tributo ao classicismo de diretores como John Ford, Billy Wilder e François Truffaut.
A divisão da história em capÃtulos, mais do que ferramenta estilÃstica, serve para que a tensão da aventura seja costurada em um quebra-cabeça surpreendente. Tarantino não faz concessões ao seu estilo e, se você nunca gostou do diretor, não é agora que vai começar... Mas se você é fã... ah, “Bastardos Inglórios†é um dos melhores filmes do ano.
Aldo Rayne (Brad Pitt) é o lÃder dos “Bastardos†do tÃtulo, um grupo de soldados judeus que caça nazistas durante a II Guerra Mundial. Mas ao contrário do que parece, o protagonista não é Pitt, nem nenhum de seus colegas, mas sim Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent), a jovem que testemunhou o assassinato da famÃlia pelos asseclas de Hitler e arma uma épica vingança.
A forma como essas diferentes linhas narrativas vão se cruzar é puro Tarantino, com personagens estereotipados e unidimensionais cercados por muita violência. O humor negro está mais sutil e é preciso estar atento ao contexto dos anos 30 e 40 para se divertir com todas as citações e homenagens.
Pitt faz uma interpretação canastra na medida, inspirada em John Wayne (Rayne, sacou?), enquanto Laurent é a femme fatale clássica das produções da época. Mas se o filme tem um dono, além de Tarantino, ele é Christoph Waltz: seu coronel nazista Hans Landa é tão hipnotizante que não apenas domina todas as cenas, como cria uma perigosa empatia pelo vilão.
No mais, estão lá os divertidos diálogos, a perfeita composição de quadros e a trilha sonora inspirada. Da já antológica sequência inicial até a resolução do crescente suspense, o diretor desfila citações a “King Kongâ€, “Cinderelaâ€, “Os Doze Condenados†e várias outras obras. Mais do que seu filme mais maduro, “Bastardos Inglórios†é até agora a maior declaração de amor de Tarantino ao cinema e ao poder dos filmes de transformar (literalmente) a realidade.
Mais pÃlulas:
- Overdose 7 doses de vingança
- Clássicos na prateleira - “A Um Passo da Eternidadeâ€, de Fred Zinnemann
- Desejo e perigo
- ou Navegue por todas as crÃticas do PÃlula
Uma Thurman quer matar Bill. Mélanie Laurent quer matar Hitler.
» leia/escreva comentários (4)
|