TerrÃvel estranho dia
30.09.09
por Daniel Oliveira
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Salve geral
(Brasil, 2009)
Dir.: Sérgio Rezende
Elenco: Andréa Beltrão, Denise Weinberg, Lee Thalor, Bruno Perillo, Kiko Mascarenhas, Michel Gomes, Taiguara Nazareth, Chris Couto
Princípio Ativo: mix de gêneros gringo-nacionais
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Para contar uma das histórias mais chocantes do passado recente brasileiro, o diretor Sérgio Rezende seguiu a cartilha, mais antiga que editar pra frente, de individualizar o drama em uma personagem facilmente identificável.
Mas aà ele pensou: “e Cidade de Deus? E o cinema social brasileiro? E a vida como ela é?â€
E decidiu contar o lado dos bandidos e marginalizados sociais responsáveis pelo tal evento. O Primeiro Comando da Capital estava no filme.
Mas aÃ... “e o outro lado? Não vai ficar uma representação incompleta? Tropa de elite, alguém?â€
Pronto: entrava em campo a falta de estrutura da segurança pública paulistana.
E tipo...tudo junto. Num filme só.
Que “Salve geral†não seja um “Crash†do crioulo doido é mérito do montador Marcelo Moraes, que equilibra todas essas tramas num malabarismo coreografado pela ótima trilha sonora. Ele mantém a tensão e cria um filme eficiente, mesmo pecando no ritmo arrastado em determinadas cenas.
E essas cenas estão exatamente na trama que deveria ser a principal: a de Lúcia, professora de piano e mãe de um detento. Para ajudar o filho, ela se envolve com o PCC, às vésperas do ataque da organização que parou e aterrorizou São Paulo no fim de semana do dia das mães de 2006.
Por mais que Andréa Beltrão entregue a performance de sua carreira como Lúcia, cujas escolhas questionáveis rumo ao Lado Negro da Força são um argumento contundente e perturbador, a história se dilui em diálogos fracos e cenas longas e expositivas demais. Especialmente comparadas à s sequências com os membros do PCC. Elas revelam não um poder paralelo, mas sim um paÃs paralelo, que não nos pertence (nós, classe média) e que tem o poder de invadir o nosso e exigir o que e quando quiser.
Sérgio Rezende se mostra um contador de histórias eficiente, mas não talentoso. Falta carpintaria ao filme – uma fotografia bem pensada, uma edição com identidade própria, facão nos diálogos óbvios - aquele toque que separa um longa bom de algo genial. O piano de Lúcia até poderia cumprir o papel da linha que costura e embeleza a tela, mas é esquecido na metade final.
A música, aliás, é um dos pontos altos do filme (apesar de, como professora de piano, Lúcia só tocar uma canção, um leitmotif que fica bem chato depois de certo tempo). São os tambores da trilha que arrebatam o espectador na sequência dos ataques, já que as imagens de Rezende nunca transmitem a real dimensão do pânico de uma metrópole do tamanho de São Paulo parada por uma organização criminosa.
Não faz jus ao terrÃvel estranho dia que marcou a História. Mas é um belo estranho filme, que conta razoavelmente bem uma(s) história(s).
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