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Espelho indiscreto

13.09.09

por Daniel Oliveira

Gigante

(Uruguai/Argentina/Espanha/Alemanha, 2009)

Dir.: Adrián Biniez
Elenco: Horacio Camandule, Leonor Svarcas, Fernando Alonso, Diego Artucio, Fabiana Charlo, Andrés Gallo

Princípio Ativo:
romance em silêncio

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Da série “propostas para um cinema futuro com menos clichês e mais harmoniaâ€:

Que tal decretar moratória aos filmes em que o protagonista segue alguém(ns)/uma história em alguma espécie de tela, criando um espelho metalinguístico da relação entre o espectador e o cinema? É uma metáfora que já foi utilizada vezes demais, sendo uma das mais recentes o ótimo irlandês “Marcas da vidaâ€. E que, de boa, ninguém devia ter coragem de tentar fazer de novo depois que Hitchcock realizou o definitivo “Janela indiscretaâ€.

Bem, isso para o futuro. Enquanto ele não chega, temos esse “Giganteâ€, simpática (mas ordinária) produção uruguaia sobre Jara (Camandule), operador de câmeras de segurança de um supermercado, que fica obcecado com uma das faxineiras do local, Julia (Svarcas). Ele passa a seguí-la não só no estabelecimento, mas no caminho para casa, na praia, balada e em qualquer outro lugar, sem nunca conversar com ela ou mesmo ser visto.

Simpática porque o diretor Adrián Biniez, estreante em longas, realiza o que é na verdade uma comédia romântica semi-convencional com personagens que dificilmente veríamos no gênero, o que dá certo frescor à película. Ordinário porque a tal estrutura do protagonista seguindo a faxineira pelas câmeras é realmente bem batida e o roteiro parece nunca explorar as possibilidades proporcionadas pela história, abusando de gags episódicas e se tornando meio arrastado no meio do filme.

Em determinado momento, por exemplo, assistimos a Jara assistir a Julia assistir a um filme no cinema. Temos as reações da moça causando reações no protagonista e, por fim, as nossas como espectador. Poderia ser genial, mas acaba se tornando algo muito sacado, que quer ser inventivo, mas na prática não tem nada de novo. Uma boa sacada, mais sutil e eficiente, é a utilização da trilha estourada com as músicas escutadas pelos dois protagonistas, sempre com fone de ouvido, denotando seu isolamento e solidão.

“Gigante†se beneficia, no fim das contas, da boa delineação desses dois personagens. Jara é um sujeito alto, gordo, metaleiro, esquisito, cuja vida se resume a jogar Playstation com o sobrinho, o emprego no supermercado e outro como porteiro de um inferninho. Sua timidez, ou melhor, inapetência social, é totalmente compreensível. Já Leonor Svarcas consegue tornar o cotidiano nada excepcional de Julia em algo estranhamente sedutor sem dizer uma palavra durante 99% do filme.

São os dois, e algumas gags realmente engraçadas, que carregam o filme nas costas. Eles dão empatia a um romance sem romance, uma relação etérea, quase inexistente. É bonitinho. Mas ordinário.

Mais pílulas:
- A vida dos outros
- Casa Vazia
- Ruído
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Camandule: cercado por metáforas demais.

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