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Non, je ne regrette rien

12.07.09

por Daniel Oliveira

Há tanto tempo que te amo

(Il y a longtemps que je t’aime, França/Alemanha, 2008)

Dir.: Philippe Claudel
Elenco: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hanavicius, Laurent Grévill, Lise Ségur

Princípio Ativo:
ausência de monstros

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Juliette Fontaine, a protagonista de “Há tanto tempo que te amoâ€, guarda uma semelhança com a Hanna Schmitz de “O leitorâ€. Ambas carregam em si uma culpa e um segredo – e esse último poderia mudar a direção dos ventos da tempestade que se abate sobre elas. Mas, na tradição dessas mulheres que, segundo Saramago, “vêm sofrendo desde o início do mundoâ€, elas permanecem em silêncio.

Elas sabem de sua culpa. E veem sua punição como merecida. Mas não pedem desculpa por nada. Como diria Edith Piaf, “non, je ne regrette rienâ€.

Mas enquanto “O leitor†adotava uma abordagem macro, tocando em um tema histórico que mexia com nossas percepções políticas, “Há tanto tempo que te amo†é um longa intimista. A câmera está sempre perto dos atores e as relações interpessoais são o que interessa. E, ao contrário do longa de Stephen Daldry, que dirigia seu foco para a culpa de alguém próximo a Hanna, “Há tanto tempo que te amo†é centrado em Juliette, interpretada por uma estupenda Kristin Scott Thomas.

Ela é a ex-presidiária que vai morar com a irmã, Léa (Elsa Zylberstein, também ótima), após 15 anos na cadeia. Por mais que Léa seja um pouco o guia do público no filme, os olhos compassivos do espectador ali dentro, é a relação de Juliette com uma família que ela desconhece – e com um mundo que seguiu em frente sem ela – o eixo em torno do qual o longa se estrutura.

O roteiro de Philippe Claudel, que também estreia na direção, manipula o espectador o tempo todo, subvertendo suas expectativas e desafiando seus preconceitos. Auxiliado pela atuação impecável de Scott Thomas, o cineasta constrói essa Juliette que fuma o tempo todo, que não se esforça em ser simpática, que não aparenta muitos motivos para seguir vivendo. A protagonista parece olhar o tempo todo para nós com o mesmo desprezo com que olha para todos aqueles que a julgam. Com a dor de quem viveu muito mais do que nós podemos imaginar – com a serenidade de quem já viu o pior e sabe, portanto, que não há o que temer.

E mesmo com a decisão ousada de seguir pelo confronto melodramático ao final e a chuva (óbvia) que vem lavar as feridas enfim abertas, Claudel se sai bem com sua trama. Scott Thomas e Zylberstein seguram seu texto pesado e sua insistência arriscada em apresentar algo próximo de um ‘encerramento’. E, ao entregarem uma das frases mais potentes do ano, “explicar é pedir desculpas e a morte não tem desculpaâ€, lembram, especialmente para nós brasileiros, que é bem mais fácil desviar os olhos do monstro que ousar encarar de frente o ser humano.

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O olhar: Juliette nos devora antes mesmo que a decifremos.

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