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Gente bonita em clima de paquera

Sábado no Eletronika

por Rodrigo Ortega

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- Você vai entrar de novo ali? - me pergunta o adolescente de boné, com cara de fã de Charlie Brown Jr, apontando na direção do salão improvisado para a imprensa, onde Mallu Magalhães estava dando entrevistas para, aparentemente, todos os jornalistas musicais de BH.

Ele queria tirar uma foto de pertinho, nem que fosse por uma tietagem terceirizada (pobre garoto, ainda bem que a bateria acabou antes de ele ver o quão ruim ficou a foto que eu tirei pra ele). Mas logo depois deve ter ficado mais satisfeito, já que uma fila de dezenas de fãs se organizou e a Mallu conversou com cada um deles.

E não foram só os mais jovens que suspiraram pela Mallu. Na apresentação dela, no Grande Teatro do Palácio das Artes, cada comentário era seguido de risinhos gerais. Realmente a garota consegue ser simpática até na hora de tirar o papel do bolso para não chegar em casa depois e se lamentar "Putz! Esqueci de tocar essa parte", como ela mesma explicou. E o melhor de tudo é que, além de ter comentários e músicas gracinhas, ela canta de verdade, bem melhor que eu imaginava.

A surpresa do show dela foi a participação de "Helinho", como ela chamou, que tocou gaita, cantou em duas músicas e beijou a mão de Mallu. Na fila de fãs, uma garota explicou a outra quem era "Helinho": "ele é vocalista de uma banda chamada Vanguart e namorado dela".

E a cantora que completou 16 anos sexta-feira não foi a única assediada no Eletronika. No show do Monno, que abriu a noite no teatro João Ceschiatti, o grande destaque foi uma menina da platéia que ficou o tempo inteiro gritando pelo vocalista e guitarrista Bruno Miari. "Lindooo!". O público não-adolescente se irritou ("Cega!", respondeu um; "Toca logo pra ela parar de gritar", pediu outro).

Mas Bruno não se incomodou muito (exceto quando ela apontou o seu cofrinho, enquanto o guitarrista se abaixava para arrumar o defeito do seu pedal de guitarra, que atrapalhou bastante o show). Eles acrescentaram à banda um tecladista fixo e um trompetista em "21 dias". Sem o clima de bagunça de shows em inferninhos, a banda mostrou segurança nos instrumentos, especialmente as boas levadas da bateria de Koala.

O guitarrista Kayapy, da banda que tocou logo depois do Monno, o Macaco Bong, seria a vítima dessa minha história de "onde os feios não têm vez". Ele tem um cabelo de samambaia, não usa microfone nem pra dizer boa noite pro público e faz umas caras estranhíssimas enquanto toca os melhores riffs de guitarra que eu conheço entre as bandas brasileiras atuais.

Seu show estava mais vazio que o do Monno e esvaziou ainda mais quando a Mallu começou no teatro maior lá de cima. Mas depois que eu vi Kayapy também cercado de jornalistas, com uma garota com carinha de anjo parecida com, hmm, Mallu Magalhães, vi que ele não tinha nada de vítima.

Quem se deu mal no fim, ironicamente, foi um trio de garotos bonitos e novinhos com roupas da moda e músicas idem, um rock dançante bem divertido. Umas sete pessoas, incluindo eu durante duas músicas, devem ter assistido a apresentação do Pop Armada. O resto do público estava vendo o post-rock do Hurtmold, pagando seus pecados musicais por ter visto antes uma jovem estrela da MTV. O grupo tocou um som tipo trilhas para vinhetas da MTV no começo e, com a participação de Paulo Santos, do grupo Uakti, trilhas para programas ecológicos da TVE.

Depois do Hurtmold, não havia nenhuma energia para ver o Asobi Seksu, atração final. Apesar do visual incomum do palco e da vocalista japonesa, o som é um derivado de My Bloody Valentine convencional, rock arrastado que não impediu quem não havia ido embora de tentar se manter acordado. Eu desisti.

O vídeo que ilustra esse post não tem nada a ver com o sábado. Mas assim como a Mallu, é super gracinha: Fernanda Takai tocando "Diz que fui por aí" no show da quinta-feira. Vê aí:

(Vídeo do youtube.com/everaldobh)

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