Sobre o show de ontem, no Circo Voador: eu não tenho uma máquina digital boa. Essa resenha não tem fotos. Mas eu tenho um bloco de notas e você tem imaginação.
00:17
Eu sou aquele cara ali, colado no palco, bem do lado direito, enxergando os músicos quase de perfil. Tudo bem, estou no canto, mas rindo, balançando a cabeça e perto o suficiente das pessoas e das caixas de som para não chegar depois com um texto do tipo "that's me in the corner".
Estou no show dos Faichecleres e acabei de inventar um novo jogo, chamado "Banda Visual". O jogo consiste em tentar identificar, no meio da multidão, grupinhos de pessoas que poderiam ser uma banda e imaginar como seria esta banda, pelas roupas e pelos trejeitos delas. O número de pessoas que vão juntas a um show costuma variar entre dois e quatro. Portanto, estou no lugar ideal para jogar "Banda Visual": assisto às apresentações no palco e na minha cabeça.
Os Faichecleres são aqueles ali em cima. Quem está falando pela banda, dizendo "boa noite" e essas coisas, é o novo baixista Ricardo. Mas quem canta mais é o guitarrista Marcos e a pessoa que importa é aquele ali do meio, o Tuba. Aquilo no teto é a baqueta do Tuba, que ele joga pra cima toda hora, enquanto grita e toca ao mesmo tempo. Este é o show do segundo disco, mas essa música que me fez balançar o pé se chama "Augusta" e é "do terceiro disco", como eles disseram.
Além de uns quatro garotos bêbados lá de trás, na frente há uma grande concentração de bandas visuais que eu gostaria de escutar. Tem uma menina peituda com uma carreira solo promisssora e uns moleques de cabelos anos 60 e camisa de banda cantando todas as músicas dos Faichecleres. Eles deveriam parar de cantar covers.
O espaço na frente do Tuba é onde estava a boneca inflável que acompanhou os The Feitos no palco, no show anterior. Mas o vocalista devia ter explicado melhor quando apontou para a direção da boneca e disse "esta é a Emmanuelle", já que o baixista, que também estava na direção para onde ele apontou, tem cabelos longos e loiros. Aquela lá no táxi, do lado de fora, é a pessoa que me perguntou se eu achava que The Feitos parecia Frank Zappa e ficou sem resposta, porque eu não conheço nada de Frank Zappa.
01:07
Cinquenta minutos depois, a cena inicial está totalmente desfeita. O táxi está vazio de novo, o Tuba está no meio das pessoas lá embaixo e eu desisti do jogo imaginário (até porque o headliner do festival visual, a banda dos moleques de cabelo retrô berrando as músicas, já era um grupo imenso, tipo I'm From Barcelona, assim que o Cachorro Grande entrou).
As três primeiras músicas do show, que são as três primeiras músicas do disco novo, já tinham animado o público. Mas foi depois que eles começaram a tocar as músicas mais antigas e conhecidas (do Top 10 do primeiro post desse overdose, eles só não tocaram "Debaixo do chapéu" e "Me perdi") que todas as bandas imaginárias se uniram nesse grande Live Aid em homenagem aos Cachorros.
Aquele ali com a guitarra é o Marcelo Gross. Ele deveria estar cantando essa música, "Dia perfeito", mas só disse a primeira palavra e deixou o público cantar o resto. Aquele sou eu achando lindo e cantando junto. O vocalista Beto Bruno usa um casaco tipo de exército. Do lado do Beto está o baixista Rodolfo Krieger, com um casaco idêntico.
Rodolfo é um ótimo beto-bruninho. "Deixa Fudê", cantada por ele, foi uma das músicas novas mais animadas da noite. Mas Beto Bruno pai provou que ainda comanda na incrÃvel sequência "Sexperienced" e "Lunático".
Um último detalhe da cena: o cara no fundo do palco, o segurança que empurra os garotos mais animados de volta para a platéia, está com uma camisa preta escrita, em letras garrafais, CACHORRO GRANDE.