“Estou me sentindo como alguém que abre a porta para sair, vê a chuva e segue em frente, sem medo de se molharâ€. As belas palavras da diretora Luciana Bezerra, do Rio de Janeiro, ao apresentar seu curta “Mina de Féâ€, sintetizam bem o espÃrito da 8ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que deu especial destaque ao Primeiro Cinema, aos diretores que apresentavam ali sua primeira obra.
Joel Zito Araújo, diretor de “As filhas do Ventoâ€,
Diálogos forçados, falta de recursos, inexperiência. São alguns dos efeitos colaterais dessa seleção, que não trazia nenhum grande destaque, nenhum favorito, mas a boa nova de que sangue novo invadiria as salas de exibição em 2005. E mesmo com as falhas, quem se importa? A simples sensação de se estar em um festival de cinema de uma cidade que, a princÃpio, não possui salas de exibição parece transportar os 35 mil espectadores que invadem a pequena Tiradentes a uma outra dimensão: a do audiovisual possÃvel.
Não, eu não estou viajando no celulóide, amiguinhos. Explico: o simples andar pelas ruas e vielas da cidade histórica, em meio aos oficineiros, com seus óculos de aro preto, seu olhar atento e a atitude de quem busca a todo tempo uma oportunidade de mostrar seu talento é muito interessante. Ao mesmo tempo, atores, cineastas, videastas e produtores caminham ao seu lado, apresentam seus filmes e olham para você. Neles está o desejo de saber a sua opinião acerca do filme, se gostou, se recomenda.
Não existe palco, palanque ou tapete vermelho em Tiradentes: todos ali estão no mesmo nÃvel, com um mesmo interesse: o cinema nacional. Ao ponto de um ator não conseguir segurar a curiosidade, ficar observando sua conversa com os amigos e chegar de repente, sem esperar o caminho natural que seria Maomé ir à montanha, e perguntar: “E aÃ, o que vocês acharam do filme?â€. Mesmo os jornalistas se perdem em meio aos demais espectadores e a tentativa de realização de uma “matéria quadradona†acaba ficando deslocada, como se viu na televisão.
Fábio Britto e Simone Lara, diretores de “TV Muroâ€, melhor vÃdeo
Não importava muito a avaliação dos filmes: bom ou ruim estava em segundo plano. O fato é que o cinema nacional cresce, que o marco da retomada de “Carlota Joaquina†completa 10 anos, assim como a própria Mostra, e isso é o que vale comemorar e discutir - o incipiente nascimento de uma indústria que dá boas vindas a novos cineastas: no vÃdeo, no curta ou longa-metragem.
É esse aspecto simbólico que faz de Tiradentes um dos festivais de cinema mais importantes do Brasil. A garra de levar o cinema ao povo, com uma programação 100% gratuita A premiação do público, que consagrou “Filhas do Ventoâ€, de Joel Zito Araújo, diretor estreante, como melhor longa, é somente uma cereja nem cima do bolo, que dá mais cor à festa. “O último raio de solâ€, de Bruno Torres, foi a questionável escolha do melhor curta, e “TV Muroâ€, de Fábio Britto e Simone Lara, o melhor vÃdeo. A gente dá a dica dos curtas “Vinil Verdeâ€, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, e “O Astista contra o caba do malâ€, do cearense Halder Gomes, como bom material para você procurar pelos portais de curta na Internet. E destaca abaixo alguns longas que chegam à s salas da sua cidade nesse ano e que você, como os 35 mil cinéfilos de Tiradentes, não vai perder.
As Filhas do Vento
Diabo a quatro
Feminices